quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal.



A todos os que, habitual ou ocasionalmente, passam por aqui, os meus desejos de festas felizes.
Aproveito para deixar algumas palavras, já conhecidas, mas sempre oportunas.
José Alberto

Tu que dormes a noite na calçada de relento
Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
És meu irmão amigo
És meu irmão

E tu que dormes só no pesadelo do ciúme
Numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
E sofres o Natal da solidão sem um queixume
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da mulher

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
Tu que inventas bonecas e combóios de luar
E mentes ao teu filho por não os poderes comprar
És meu irmão amigo
És meu irmão

E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da mulher

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O meu genro apanhou-me a olhar para o tecto.


Estava eu, disfarçadamente, a olhar para o tecto, pensando que ninguém me iria descobrir, quando, de repente, o meu genro entra pela cozinha dentro e me pergunta:

- O que está a fazer aqui sózinho, a olhar para o tecto?

Surpreso e atrapalhado, ainda tentei disfarçar mas não havia volta a dar. Fui mesmo apanhado e agora ia ter de dar uma explicação convincente.

Passo a explicar:

No passado fim de semana fui a Lisboa. Aproveitei o facto de a minha filha aí estar a viver e realizando-se nesse fim de semana a maratona de Lisboa, juntava o útil ao agradável. Visitava a família, enchendo o meu baú de afectos, ao mesmo tempo que aproveitava para fazer uma corrida.

Cheguei a pensar alinhar na maratona, mas cedo desisti da ideia, pois tendo corrido a maratona do Porto há um mês atrás, entendi que me era mais útil, nesta altura, optar pela meia-maratona.

Assim fiz. Cheguei no sábado e logo na parte de tarde aproveitei para levantar o dorsal, altura em que tive o prazer de encontrar o Joaquim Adelino, com quem tive alguns momentos de agradável conversa.

No domingo de manhã acordei bem cedo. Seriam umas 7 horas. Lá tomei o pequeno-almoço e fiquei à espera que as horas passassem, pois a partida para a minha prova seria só às 10:30. Como todo o mundo lá em casa ainda estava a dormir, lá fiquei eu, sentado na cozinha, ora olhando para o infinito, ora olhando para o tecto, fazendo contas de cabeça.

E fui aí que o meu genro, entrando, me faz a tal pergunta:

- O que está a fazer aqui sózinho, a olhar para o tecto?

Lá tive de lhe explicar que depois de tantos anos de corridas, depois de ter feito mais de 60 meias-maratonas, nem sempre é fácil encontrar motivação para sair de casa numa manhã fria de Outono para correr 21 kms. e lá tive de confessar:

- Estou a pensar se vou correr ou se continuo aqui a olhar para o tecto.

Escusado será dizer que pouco tempo depois já ía a caminho da partida.

Que dizer da prova? Foi mais uma! Não choveram estrêlas, o céu não mudou de côr, o vento não parou para eu passar, o rio não se abriu e os anjos não cantaram hossanas. O dia ficou “limitado” ao reencontro com alguns amigos, alguns com quem tive o prazer de falar pessoalmente, e outros com quem me cruzei durante a prova e com os quais existe uma empatia que nos leva a procurá-los no meio da multidão e a gritar “fôrça Luís”, “fôrça António”, “fôrça Joaquim”, “fôrça Fernando”, “fôrça José Magro”, “fôrça Vitor”, e fôrça para tanta mais gente.

Coisa pouca!? Talvez, para alguns. Não para mim. Acrescente-se ainda o enorme prazer que sinto em correr e o facto de encarar a prova sem compromissos especiais que não fôssem o prazer de correr e o chegar ao fim em boas condições e a combinação ficou completa.

Como se tal não chegasse tive ainda direito a fotógrafo de serviço (muito obrigado Isabel Almeida), que gentilmente captou a minha entrada “triunfal” na pista de tartan do Estádio 1º. de Maio.

É verdade, depois de tantos anos a correr nunca tinha terminado uma prova dentro de um estádio.

Quanto à prova em si, especialmente no que diz respeito à alteração do percurso, pessoalmente achei muito mais interessante. Se tivesse corrido os 42 kms. talvez a minha opinião fôsse outra. No meu caso, que gosto de subir, até que “gramei” aqueles quilómetros finais, tendo feito a segunda metade da prova em menos tempo do que a primeira.









José Alberto

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Dois mendigos e um pouco de ternura.


Há o 7 o 8 e o 9 que vão para os Aliados; há o 55 o 69 e outros mais que vão para o Bolhão e há muitos outros, que vão para outros tantos lados.

Há ainda o 227 que sai da Praça da Galiza e termina a carreira no Parque da Cidade, depois de passar pelo Castelo do Queijo, Arrábida, Afurada, Freixo, etc..

O 227 (parece número de autocarro mas não é) tinha acabado a sua corrida há poucos minutos. 4 horas e 18 minutos depois de ter partido da Praça da Galiza, junto ao Palácio de Cristal, ei-lo chegado ao Parque da Cidade. Triunfante mas nem tanto...

O 227 ainda esboçou uma tentativa para ir à zona das massagens, pouco concorrida naquele momento, mas achou que mesmo deitado ia ser difícil aturar alguém a mexer no seu corpo. Por isso lá se apressou a ir para o carro.

Lá chegado, abre a mala do carro e puxa de um powerwade e de uma barrita. Escasso de forças o 227 senta-se na mala do carro e fixa o horizonte. Do horizonte surge, então, pálida, magra e com aspecto doente uma senhora/rapariga que se-lhe dirige e lhe pergunta:

- Senhor, não tem um euro que me dê? É para eu comer qualquer coisita.
Maldisposto, o 227 responde:

- Não tenho moedas.

A rapariga afasta-se.

Pouco depois, nova incursão.

- Senhor, sabe se ali estão a dar bananas?
O 227, ainda em recuperação, olha e não responde.
- Ou será que só estão a dar aos atletas?

Já mais recuperado, o 227 chama a rapariga e diz-lhe:

- Tome lá um euro.
- Muito obrigada, responde a rapariga.

Alguns minutos depois:

- Os cafés estão todos fechados, não posso comprar nada, diz a rapariga.

O 227, ainda mais recuperado, vai ao saco e pega numa banana que tinha trazido de casa, e dá-a à rapariga:

- Tome lá, coma-a.
- Obrigada senhor.
- O senhor correu os 42 kms.? Eu nem caminhar posso, tenho que tomar oxigénio. E lá continuou a conversa durante mais alguns minutos.

Por momentos dois mendigos (um sem forças e outro sem comida e sabe-se lá mais o quê) sentiram-se iguais. Ao 227 pareceu-lhe que mais do que um euro e uma banana a rapariga tinha gostado da conversa e de sentir-se tratada com carinho. E o 227 também veio com o coração mais cheio.

sábado, 21 de novembro de 2009

Quem quiser chorar que vá para Espanha.


Não é que eu seja grande corredor (sou antes uma espécie de corredor) mas isso não invalida que já conte com 5 maratonas corridas, cada uma com uma experiência única e particular.

Se de todas elas guardo gratas recordações, como, de resto, de todas as corridas em geral, há experiências que são mais marcantes. Foi o que me aconteceu nas maratonas de Barcelona e de Madrid. Aí eu fui às lágrimas. Só não chorei porque não levava lenços.

O mesmo não aconteceu nas outras três vezes que corri a maratona (Porto 2008 e 2009 e Lisboa 2008), situações que foram muito importantes para mim, que apreciei imenso, mas que não tiveram aquela carga emotiva que só consegui atingir em Espanha. Acho que a diferença está na festa que é criada à volta da corrida. Em Espanha (falo de Espanha porque é o que eu conheço) estão milhares de pessoas a assistir à corrida e o seu apoio e incentivo aos atletas é verdadeiramente excepcional. E, na hora da verdade, é isso que faz a diferença e nos faz atingir estados emocionais difíceis de atingir noutras situações em que corremos práticamente sózinhos.

Prevendo eu ir à maratona de Paris em Abril do próximo ano e contando esta prova com cêrca de 40.000 corredores, está fácil de ver a festa que vai ser à sua volta. Por isso estou a prever que Paris também seja de ir às lágrimas.

Assim, desta vez, além das saquetas de gel e das barritas, também vou levar lenços..

muitos lenços.

José Alberto

domingo, 15 de novembro de 2009

O respeitinho é uma coisa muito linda.

Andava eu às voltas a pensar nas razões da minha menos conseguida prestação na maratona do Porto, quando o Joaquim Adelino colocou um comentário no meu blog que dizia:



Pôsto isto acho que está quase tudo explicado.

E ponto final!

Não fosse eu um tipo um pouco teimoso e sempre procurando saber o porquê das coisas e ter-me-ia dado por satisfeito. O certo, porém, é que eu gosto de ir ao fundo das questões e embora ainda hoje não tenha resposta para muitas das minhas dúvidas (por exemplo: ainda não descobri o que apareceu primeiro, se a galinha ou o ovo), lá continuei a cismar.

Então é assim:

Apesar de a maratona ser uma prova de resultado sempre imprevisível eu creio que falhei na abordagem à mesma. A verdade é que eu fui para a prova com demasiada descontração. Eu, que sou um homem de contas, tinha tudo planeado: quanto tempo pensava fazer; quais seriam os meus tempos intermédios (10 kms./20/kms/30 kms); qual o ritmo médio para atingir tais tempos, etc..

Porém, na hora da verdade, fui na onda. Ainda hoje me custa a aceitar o à vontade com que eu me deixei entusiasmar pela envolvência. É certo que tudo bateu certo para que me deixasse levar pelo entusiasmo (foi o encontrar velhos amigos; foi o conhecer novos amigos; foi o deixar-me confundir pelo ritmo imposto pelos corredores dos 14 kms. que iam passando; foram as bandas de música a tocar e foram outras coisas mais). E, carago, no fundo já era a minha 5ª. Maratona, além de maratonista eu também já era maratoniano.

Acresce ainda o facto de em termos de treinos longos, e aqui falo de treinos de 30 kms., eu ter ficado aquém do necessário, o que, no meu caso pessoal, pode ter feito toda a diferença.

Quanto à corrida em si, foi mais ou menos assim:

No sábado à noite preparei todos os detalhes, de maneira a que logo no domingo de manhã eu estivesse pronto sem grandes problemas. Assim, domingo de manhã levantei-me bem cedo e logo depois arranquei para o Porto. Eram cêrca de 7:25 já eu estava no Parque da Cidade, tendo entrado no primeiro autocarro que partiu para o local de partida, onde terei chegado um pouco antes das 8:00. Mal lá cheguei encontrei um grupo de amigos aqui da blogosfera que estavam a tirar fotografias para a posteridade (o António Almeida, Fernando Andrade, Ana Pereira, Vitor Veloso, Joaquim Adelino, Luís Mota e alguns familiares). Cheguei mesmo a tempo de entrar nas fotos, após o que tive o prazer (grande) de cumprimentar alguns amigos e de trocar algumas palavras. Neste entretanto também tive a oportunidade de conhecer pessoalmente o João Meixedo, o Ricardo, o Miguel Paiva e o José Brito e a Otília Leal, o que me deu uma grande satisfação, se bem que o momento não fosse para grandes conversas, pois o tempo era pouco e a ansiedade era grande e começava a crescer.

Mal tive tempo de aquecer e de fazer um pouco de ginástica e quando dei por mim já estava no local de partida à espera que soasse o sinal.

Dado o tiro de partida lá arranquei e fui percorrendo os kms.. Atendendo ao facto de os primeiros quilómetros serem a descer, o ritmo foi mais rápido. A juntar a isto há também o facto de nós nos vermos envolvidos pelos atletas das duas outras competições que, óbviamente, têm ritmos mais rápidos. Aqui fui ultrapassado por alguns colegas aqui da minha terra que iam para os 14 kms. e que deram algum incentivo. Passei aos 10 kms. com 53:28 (bem bom...infelizmente). Entretanto, lá por volta dos 12 kms. ouço uma voz vinda de trás de mim, que diz – “Ui Alberto”, era o Renato Cruz, que conhecia da Maratona de Lisboa do ano passado. Fomos juntos até por volta dos 22 kms. Este homem é um espectáculo. Ele puxa pela assistência, ele bate palmas às bandas.. É, de facto, uma companhia muito agradável. Foi bonito o momento, muito esperado por ele, de se encontrar com a família debaixo da ponte da Arrábida e ali exibir uns momentos de ternura familiar. Num determinado momento incentivei o Renato a avançar, pois sentia que ele poderia fazer melhor do que eu, e assim continuei sózinho. Entretanto, havia passado os 20 kms. com o tempo de 1:49:58, o que continuava a ser “demasiado” bom para as minhas expectativas. No retorno cruzei-me com o Joaquim Adelino que ia umas poucas centenas de metros à minha frente e retive desta passagem a concentração e o espírito determinado com que ele seguia. Lá fui seguindo a minha corrida, tendo passado os 25 kms. com 2:18:46, os 30 kms. com 2:47:56. e os 35 kms. com 3:20:43. Esta marca de 3:20:43 dava para, mantendo o mesmo ritmo, terminar a prova com 4 horas, o que, sinceramente, nunca tinha estado nos meus objectivos, pois havia apontado para um tempo na ordem das 4:10/4:15.

Posso dizer que até aos 35 kms. a minha corrida foi um completo passeio. Muito prazer e pouca dor, sempre a incentivar e a cumprimentar os atletas que se cruzavam comigo. Seguia como se fosse para a festa.

Até que, de repente, lá por volta dos 36 kms. e num espaço de umas poucas centenas de metros a minha energia foi-se. É quase como um “desmaio” energético. De um momento para o outro a nossa força desaparece e ficamos à mercê de eu sei lá o quê. A partir daí foi uma corrida/caminhada solitária até à meta. O curioso é que apesar da falta de forças a cabeça só tem uma coisa em mente que é avançar e terminar a prova. Alternei a corrida com alguns momentos de caminhada, mas mesmo quando caminhava era com muita determinação. Nestes últimos kms. perdi muito tempo, demasiado tempo. Demorei os seguintes tempos para percorrer os últimos kms.: km. 36/6:49:04; km. 37/7:10:02; km. 38/7:40:58; km. 39/7:26:94; km. 40/7:33:25; km. 41/8:13:37 e km. 42/7:54:25. Perdi mesmo muito tempo nestes últimos kms. e foi mesmo muito difícil chegar ao fim. Nestes últimos kms. fui passado por muitos atletas, muitos deles também já iam a dar as últimas, mas mesmo assim iriam melhor do que eu. Acho que a parte final da prova é demasiado “perversa”. Aquela recta na marginal é interminável (muito pior do que a recta da Nazaré, quando parece que estamos no sítio e nunca mais lá chegamos) e a ida à rotunda da anémona é algo contra a corrente.

Na subida final da Ava. da Boavista ainda caminhei alguns metros mas lá me consegui aprontar para a chegada “vitoriosa” à meta, que cortei em bom estado, com o relógio a marcar 4:18:17 (tempo de chip: 4:17:45).

Ainda esbocei uma tentativa para ir às massagens, pois estavam alí poucos atletas, mas decidi-me por ir para o carro que estava mesmo alí ao lado da meta. Abro a mala do carro, sento-me, pego numa powerade, bebo uns goles, pego numa barrita energética que como aos poucos, telefono para casa a avisar que tudo está bem e caminho, devagar, algumas centenas de metros, enquanto vou assistindo à chegada de outros atletas.

Alguns minutos depois sinto-me totalmente recuperado e regresso a casa, alegre e bem disposto. Poderia ter feito melhor? Sim, talvez, quem sabe...Valeu a pena? Claro que valeu a pena. Aprendi alguma coisa? Claro, aprendi imenso, foi uma experiência grandiosa. Mesmo a facto de ter passado algumas dificuldades para completar os últimos kms. contribuiu, e muito, para fortalecer o meu espírito de sacrifício e testar as minhas capacidades de sofrimento. Se assim não fosse não estaria eu já a pensar na próxima maratona, que espero seja em Abril de 2010, em Paris.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Maratona do Porto 2009 - resultado.


Com o “magnífico” tempo de 4:18:17 terminei, no passado domingo, a 6ª. Maratona do Porto.

Brevemente, neste blog, a história de um “estouro”.

sábado, 31 de outubro de 2009

deamanhãaquinzediasfazoitodias


É isso! De amanhã a quinze dias faz oito dias que eu fui correr a maratona do Porto. Vamos a ver se tudo vai correr bem. Espero que sim.

E qual vai ser o meu prémio? Que taça vou receber?

Bem, a “taça” que eu espero receber é conseguir terminar a prova sem sobressaltos e conseguir regressar a casa com boa disposição para aí desfrutar do devido prémio. E que prémio é esse? É, no domingo à tarde, sentar-me no meu sofá e com aquele olhar distante como quem está entusiasmado a ver um filme na TV, estar alí e ao mesmo tempo não estar, e conseguir ter alegria e boa disposição suficientes para rebobinar a cassete dos acontecimentos e “apanhar” boas recordações. Recordações tais como: o encontro com alguns amigos; um sorriso de uma velhinha que estava mesmo alí à saída do tunel da Ribeira a ver a maratona a passar; um “força José” de uma criança que alí estava em plena avenida da Foz, que me estendeu a sua mão e a quem eu dei um “tapa”; alguns momentos de fraqueza em que parecia que as forças iriam faltar mas que consegui ultrapassar; o passar por alguns colegas dando-lhes algum ânimo; o ser passado por outros, recebendo deles algum apoio; o chegar ao “muro dos 30 kms. e continuar mais alguns kms. a ver se o muro está mesmo alí ou não; é, finalmente, chegar à rotunda do castelo do Queijo, saber que já falta pouco, ir até ao Edifício transparente, e pouco à frente, iniciar a subida de algumas centenas de metros que me irão levar a passar o pórtico da chegada; olhar para o relógio e, dependendo do tempo de então, forçar um pouco, ou não, conforme esteja ao alcance um tempo pessoal “geitoso”;

Sim, um tempo pessoal geitoso. Mais do que um tempo geitoso não posso prometer.

E, acima de tudo, a satisfação de ter cumprido os objectivos a que me propus e, por isso, sentir o “ego” um pouquinho inflamado. Sim que para elevar a moral não há nada melhor que enfrentar desafios.

Também é certo que de amanhã a quatro semanas faz três semanas que corri a maratona do Porto e pode acontecer que nessa altura a minha disposição seja diferente, pois há sempre a possibilidade de de algo correr mal. Mas como não é disso que eu estou à espera toca a afastar maus pensamentos.

Por isso, de amanhã a uma semana lá estarei.

José Alberto

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A caminho do Porto.


Ontem foi dia de mais um treino mais ou menos longo. Foram vinte e cinco kms que completei em 2 horas e 25 minutos.
Terá sido o último longo antes da maratona do Porto no próximo dia 8 de Novembro.

Em geito de balanço final desta preparação devo dizer que nem foi boa nem foi má. Foi a possível. Creio que terá ficado um pouco aquém do esperado. Em relação à preparação para as minhas anteriores maratonas anteriores fiz menos treinos verdadeiramente longos. Longos, como eu acho que o são, terei feito dois, um de 28 e outro de 30 kms. Tirando estes dois, completei mais uma série de treinos (uns oito ou dez) com distâncias entre os 22 e os 26 kms. Contráriamente à maior parte dos colegas da blogosfera não participei em muitas provas. Fi-lo só por uma vez, o que aconteceu na meia-maratona de S. João das Lampas, em 12 de Setembro.

Por uma questão de auto-confiança gostaria de ter feito mais uns 2 ou 3 treinos de 28/30 kms. Contudo, o tempo foi passando e não foi possível. É engraçado que quando nos propomos a iniciar a preparação para uma maratona achamos que 120 dias é muito tempo. E é, de facto. Mas, no fim, quando damos conta, vemos que afinal não foi e que ainda ficaram coisas por fazer.

Entretanto, já só faltam 12 dias para o grande dia. O importante, para mim, foi ter conseguido, até agora, manter a motivação e sentir que estou em condições de alinhar à partida. Sem grandes receios, é certo, mas também sem grandes ilusões quanto a tempos, mas esse não é o meu campeonato.

Até lá vamos desfrutando o prazer de correr.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Choviam láminas de barbear.







Na passada quarta-feira foi dia de temporal, coisa a que nós já não estávamos habituados. Era dia de treino, o que quer dizer manhã de treino. Como de costume acordei bem cedo para me preparar, mas nem cheguei a levantar-me. È que era tanta e tão forte a chuva que nem sequer deu para equacionar se treinaria ou não. A decisão, claro, só podia ser não. É que, como se diz na gíria, “choviam canivetes”.

Nesse mesmo dia à tarde pensei que seria melhor aproveitar o bom tempo para ir correr, pois não sabia que tempo iria fazer na manhã de quinta-feira. Acabei por me decidir pela quinta-feira, pois desde que me habitui a correr de madrugada não quero outra coisa. Passada a fase inicial de habituação, por vezes difícil, acho que os treinos a esta hora do dia são muito mais agradáveis. Além disso há a vantagem de não termos desculpas para não treinarmos, pois é pouco provável que alguém ou algo nos dificulte um treino às 6 da manhã.

Assim, ontem, pela hora do costume, bem cedo, lá me preparei para correr. Que sorte, não chovia! Mas foi sol (?) de pouca dura pois ainda só tinha cinco minutos de corrida e logo começou a chover. Digamos que não choviam canivetes, mas, em termos relativos, e afinando pela mesma régua, acho bem que poderei dizer que choviam láminas de barbear. Acho que a comparação está razoável...

Nem sequer equacionei a hipótese de voltar para casa e lá continuei o meu treino de 70 minutos, sempre debaixo de uma chuva de láminas de barbear. Cheguei a casa completamente cortado, entenda-de molhado, mas nada que um bom banho não ajudasse a “secar “.

Foi um treino molhado mas bastante agradável. E, claro, é altura de nos irmos habituando a novas condições climatéricas que aí vêm para os próximos mêses. É que vêm aí frigoríficos, ventoínhas, canivetes, láminas de barbear e sabe-se lá que mais.

José Alberto

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Goooooooooolo! Goooooolo!


Muitas vezes temos dúvidas e entramos em conflito. Foi o que me aconteceu na última semana, durante a qual não conseguia decidir se iria correr a meia maratona de Ovar, hoje, ou se faria um treino de 30 kms.,ontem. Tratava-se de decidir entre o coração e a razão. Recebi alguns conselhos, que muito agradeço.

Chegada a hora da verdade, aconteceu aquilo que, no fundo, eu desde sempre pevia que viesse a acontecer. Optei por fazer o longo de 30 kms.

Foi o triunfo da razão. Na maior parte das vezes as coisas são fáceis de decidir, basta ouvir o coração e decidir com a razão.

Se eu tivesse dúvidas quanto à utilidade deste treino rápidamente elas foram dissipadas. Senti, de facto, a necessidade destes treinos longos. Nesta preparação para a maratona do Porto tinha feitos vários treinos de cêrca de 24 kms. mas só por uma vez tinha ido além (28 kms).

Assim, fiz-me à estrada com o objectivo de fazer um treino de 30 kms. em 3 horas, que é mais ou menos o ritmo que eu pretendo impôr a maratona. Depois de uns minutos iniciais mais lentos, consegui ir correndo e avançando os quilómetros a uma média de 10km/hora, tendo passado à meia maratona com 2 horas e cinco minutos. Consegui manter um ritmo sempre na média dos 5:40/5:50 até cerca dos 28 kms, altura em que o meu rendimento baixou bastante, tendo terminado os dois últimos quilómetros em 6:19 e 6:10.

De qualquer modo fiquei satisfeito, pois terminei com 2 horas e 59 minutos, tendo, assim, cumprido o meu objectivo principal. Foi, assim, caso para gritar: Goooooooooolo! Gooooooooolo! Não foi uma vitória por oito a um, mas, claro, eu também não sou o SLB.

Àparte a questão do tempo, deu para chegar à conclusão que o abastecimentos que tenho vindo a fazer (isostar power gel) não me estão a cair muito bem, pois, talvez por serem muito concentrados e doces deixam-se um pouco enjoado depois da corrida. Talvez tenha de descobrir outras alternativas (aceitam-se a agradecem-se sugestões...).

Quando fazemos estes treinos longos e acabamos exaustos com 30 kms. ficamos sempre com a dúvida sobre quem nos vai fazer os outros 12 kms., mas isso é coisa para decidir no dia.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Meia de Ovar. A minha "prova de vida".

Foi assim em 1992.

Foi assim de 1994 a 2007.
A minha história de "espécie de corredor" "confunde-se" com a meia-maratona cidade de Ovar.
Foram, até hoje, 15 participações. Ano após ano apontava esta prova e a sua data para fazer a minha "prova de vida". Foi a primeira corrida em que participei e desde então só falhei dois anos.
Foi em 1993, pois logo após a primeira prova em 1992 tive uma lesão grave nos joelhos (lesão de aprendiz cheio de entusiasmo) e estive parado vários meses. Tive de recomeçar e de reformular alguns conceitos.
No ano de 2008 também não participei, neste caso por opção (custosa), pois entendi que correr esta meia-maratona nesta altura não se enquadrava na minha preparação para a maratona do Porto que vinha 3 semanas a seguir. Por vezes temos que seguir a razão e não o coração...
Como vai ser este ano?
Bem... estou inscrito, tenho o dorsal 781, mas a decisão só será tomada no próximo sábado à noite. Nessa noite vou decidir se faço um treino longo (28 kms.) no domingo ou se me guardo para a meia de segunda-feira. A questão é que já só faltam pouco mais de 30 dias para a maratona do Porto e eu ainda só fiz um treino superior a 24 kms. Sinto que ainda me faltam alguns treinos de 3 horas.
Até lá o meu coração vai balançar.
José Alberto

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A vida aqui ao lado.

Quis o destino que este pinheiro resistisse a ventos e marés e tivesse vivido durante largos (não sei quantos, mas muitos, de certeza) anos.

Um dia, sabe-se lá porquê, chegou a sua vez. Porquê este pinheiro, porque não algum dos outros que moram a seu lado? Porquê? O certo é que do mesmo só restam as raízes.
Só (?) as raízes!


Quis o destino que este cogumelo tivesse sobrevivido até este dia. Não consigo imaginar qual será, até à data da fotografia, o seu tempo de vida. Mas o certo é que já durará há algum tempo. E tão frágil ele ali está! Rente ao chão, num sítio por onde caminham e correm tantas pessoas. No entanto ele tem conseguido manter-se vivo.

É assim, também a vida das pessoas. Efêmera e frágil. Dependendo de tantos factores e circunstâncias que o homem não domina.
José Alberto

sábado, 26 de setembro de 2009

100 comentários.











Gosto muito de brincar com as palavras. Às vezes pego num monte de palavras, fecho bem as mãos, agito-as e, depois, atiro as palavras ao ar. E é bonito vê-las voar. Tal como balões largados ao vento que se deixam levar para longínquas paragens. Por vezes, nesse caminho, encontram outras palavras, criam empatia e lá ficam em ameno convívio.

Outras palavras há, porém, que são demasiado pesadas e logo caem ao chão. Cumprem o seu destino. Não estavam prontas para voar.

Há muitas coisas que eu sei. Outras há que eu pensei que sabia e que, mais tarde, vim a descobrir que afinal não sabia.

Hoje sei uma coisa que antes não sabia. Treinar para uma maratona que se realiza em Outubro ou Novembro é bem mais difícil que treinar para uma maratona que tem lugar em Março ou Abril.

Isso, eu sei, hoje. Será que amanhã continuarei a saber ou esta verdade deslizará para a secção das coisas que eu pensava que sabia.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Tarde piaste.



Foi àcerca de 1 ano que eu senti a vontade de participar na maratona de Paris 2008. Entretanto, andei numa de indecisões e era assim – Vou? -Não vou. -Vou? - Não vou.

O tempo foi passando e eu continuava a ser um empata, sem nada decidir. Até que passado algum tempo, talvez por volta do fim do ano, tomei a decisão inabalável: Vou!

Lá fui para o computador para formalizar a minha inscrição, o que tentei. Só que do outro lado, veio, logo de seguida, uma notícia que, traduzida para português, diria mais ou menos o seguinte:

Tarde piaste!

É verdade, as inscrições estavam esgotadas.

Acabei por me decidir por Madrid, que também era em Abril, e onde, como costuma dizer o Malato, fui muito feliz.

Este ano, para não me acontecer o mesmo tomei a decisão e agi de imediato. Agora não há que voltar atrás.

Deste modo mato dois coelhos com uma só cajadada: não corro o risco de deixar esgotar as inscrições e estabeleço para mim mesmo um novo desafio para o próximo ano, o que é importante, pois como sabem aqueles que andam nestas coisas a falta de objectivos é a pior coisa que nos pode acontecer.
José Alberto

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

S. João das Lampas . Uma meia diferente.


S. João das Lampas.

Como referi na minha última mensagem, optei, e bem , por me deslocar a S. João das Lampas, para correr esta meia-maratona.

Em boa hora tomei esta decisão. De facto foram vários os pontos que me levam a considerar ter sido uma experiência positiva. Um deles era aproveitar para fazer um treino longo um pouco mais rápido, mais ou menos ao ritmo em que eu espero fazer a maratona do Porto em Novembro próximo. Acabei por completar esta maratona em 1:56:31, pelo que, atendendo ao grau de dificuldade (grande) da prova, considero um resultado positivo.

Outro dos motivos era aproveitar para conviver com alguns amigos da blogosfera, grande parte dos quais eu só conhecia virtualmente, e que agora já conheço pessoalmente. Foi, para mim, um grande prazer ter alguns momentos de conversa com esses amigos. Não vou referir nomes, com receio de esquecer algum, mas eles sabem de quem estou a falar.

Também o facto de nunca ter corrido esta meia e de nem sequer me passar pela cabeça onde ficava essa terra que eu tomei a liberdade de chamar de S. João das Lâmpadas, me motivou, pois o factor novidade conta muito nestas coisas de corridas. E noutras também...

Quanto à prova em si, só tenho elogios a fazer. Verdade seja dita que não sou muito exigente e desde que tenha água nos abastecimentos e não seja atropelado, já me dou por satisfeito. Agradeço sempre às pessoas que, a troco de 5 ou 6 euros, se “dão ao trabalho” de organizar uma “festa” onde eu posso ir “desfilar” os resultados dos meus treinos solitários.

De qualquer modo não posso deixar de realçar a boa organização e o facto de uma terra aparentemente com poucos recursos conseguir organizar uma prova como esta. Mas a verdade é que quando alguém (neste caso o alguém tem um nome Fernando Andrade) sonha, a obra nasce.

Não posso deixar de referir a dureza da prova.
-É dura?
-É!
-E gostaste?
-Sim!
-Voltarias a fazê-la?
-Sim!


José Alberto

sábado, 5 de setembro de 2009

S. João das lâmpadas.




O rapaz andava a treinar para a maratona do Porto e, se bem que andasse um pouco cansado, achou que estaria na altura de “meter” uma meia-maratona do meio dos seus treinos. Assim em geito de brincadeira, digamos, meio a brincar e meio a sério. Ouviu falar numa meia-maratona que se iria realizar, em 12 de Setembro, alí para os lados de Sintra, numa terra chamada São João das Lâmpadas.

Como nesse fim se semana o rapaz iria estar por aqueles lados, achou que seria o sítio certo para dar corda às sapatilhas e lá se inscreveu.

Pesquisou no google-maps, mas nada se S. João das Lâmpadas. De qualquer modo não havia que ter medo, pois chegado a Sintra logo descobriria tal terra. E lá foi.

Quando chegou a Sintra começou a perguntar às pessoas onde era S. João das Lâmpadas. «não conheço», respondiam uns, «nunca ouvi falar», respondiam outros. Lá seguiu mais alguns quilómetros até que viu alguns atletas, a quem fez a mesma pergunta:

- Amigo, sabe-me dizer onde fica São João das Lâmpadas?
- São João das Lâmpadas? Não conheço! Ah, não estará a falar de S. João das Rampas?
É mesmo a uns quinhentos metros daqui. Sempre em frente.

Andou um pouco mais e lá viu um sinal que dizia “São João das Lampas”.

São João das Lampas? Uhm, devem ter-se enganado a escrever o nome.

O rapaz lá levantou o seu dorsal, equipou-se e fez a sua meia-maratona.

De regresso ainda teve tempo para pensar que há terras e gentes que devem muito ao desporto e ao atletismo. Não fosse esta meia-maratona e a esta hora ainda haveria meio mundo que nem sequer imaginaria que existe uma terra, alí para os lados de Sintra, que se chama São João das Lâmpadas, quero dizer S. João das Rampas. Ou será mesmo São João das Lampas?

sábado, 29 de agosto de 2009

Berlim. O muro que não caiu.

"Ninguém esperava pelo grande evento. Três meses antes da queda, um homem morrera ao tentar atravessar o muro com um parapente. A poucos dias do 12 de novembro, as guaritas de vigilância da banda oriental ainda impunham respeito com seus soldados fortemente armados.Fazia frio na noite de 12 de novembro de 1989. Mas isso não impediu que milhares de alemães invadissem as ruas para derrubar o famoso Muro de Berlim, símbolo máximo da Guerra Fria. Ali, naquela noite, nas ruas escuras de uma Berlim não mais dividida, escrevia-se mais um capítulo emblemático da História Contemporânea. Após aquele dia, a Alemanha voltava a ser uma só."

"Ela tinha ouvido dizer que o muro tinha sido derrubado. Por todo o lado se falava da queda do muro.

Então, confiante, já na segunda metade da prova, tomou conta da corrida e durante largos quilómetros impôs o seu ritmo. Uma após uma, as suas adversárias foram ficando para trás, incapazes de acompanhar o seu ritmo, até ao momento em que ficou quase sózinha na frente da corrida. Só mais duas ou três atletas a conseguiam acompanhar. O seu ritmo era forte e de confiança.

Eis que, de repente, apareceu o muro. Neste caso o muro de Berlim. E a atleta começou o ficar irremediávelmente para trás. "

No passado domingo tive a oportunidade e o privilégio de assistir à transmissão televisiva da maratona feminina dos mundiais de Berlim. Grande espectáculo! Adorei!

Mas, se houve cena que me marcou foi a do momento em que a russa Yulamanova, que durante largos quilómetros tinha seguido na frente da corrida, com um ritmo decidido e forte, de repente simplesmente “saiu” da corrida. Só isso, quase desapareceu. Ora, isto é a prova provada de que o muro da maratona, o tal muro, existe e está bem forte. E é isto que faz desta prova uma prova especial. Nenhum atleta, por melhor que se sinta num determinado momento, mesmo que esteja a poucos quilómetros da chegada, pode garantir que vai estar bem no quilómetro seguinte.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Estranha(s) forma(s) de vida.


Domingo. 7 horas da manhã. Estaciono o meu carro no sítio de costume, perto da marina do Areinho, Ovar. Faço cerca de 10 minutos de corrida muita lenta, seguida de cerca de mais 10 minutos de ginástica, e estou pronto para a partida para mais um treino longo de fim de semana. Serão 24 kms. que irei fazer a uma média de 6 minutos por Km.

Lá me meto eu à estrada em direcção à Torreira, onde será o meu ponto de retorno. O dia está muito nublado. O nevoeiro está cerrado, poucos metros se vendo em frente. Nada que não seja habitual nesta zona a estas horas da manhã. Concerteza que no regresso o sol já estará a brilhar e terei a oportunidade de ver o seu reflexo nas águas da ria.

Ainda meio a dormir lá sigo eu. Aproxidamente com 500 metros de corrida começo a ouvir música em alto som e carros em alta aceleração. Sigo mais uns metros e passo em frente à discoteca “Rainbow” e noto que ali está a findar o dia. De copo e cigarro na mão, com olhares distantes, música em alto som, alguns jovens apressam-se a terminar o seu dia. Com olhar surpreso olham para mim. Talvez seja a mesma surpresa com que eu olho para eles.

Estranha forma de vida a deles?

Estranha forma de vida a minha?

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Quem não tem que fazer vai aos grilos.


Sim, em tempos muito antigos eu já fui um mocito. Sim, desses de calções pelo joelho, de pernitas magras e de boné, que vão para a escola com a pasta às costas. Desses que só queria chegar ao fim do dia de aulas sem ter “provado” nas suas mãos o sabor da madeira da palmatória. Creio que quase consegui passar ao lado da dita palmatória, não podendo, contudo, gabar-me de não ter sentido o quanto ela ardia nas mãos. Outros tempos e outras histórias.

Nessa altura aqui o mocito era muito inquieto e não conseguia estar parado, sem fazer nada. Por vezes, aborrecido por não ter nada para fazer, cansava a sua mãe, queixando-se disso mesmo, ao que a mesma, talvez exausta de tanto o aturar, lhe respondia: “Quem não tem que fazer vai aos grilos”. E foi assim que aqui o rapaz se tornou um grande caçador de grilos. E olhem que não era fácil apanhar um grilo. Além de muita técnica era necessário muita paciência.

E vem isto a que respeito? Vem a respeito de há alguns dias atrás eu ter feito anos.

Sim, porque de vez em quando fazemos anos. Alguém, perversamente (?) , inventou os aniversários só para nos chamar à razão. Ou porque somos muito novos e ainda temos muito para aprender ou porque somos velhos e o melhor é ter calma e não dar demasiada corda. Parece que há sempre razão de queixa da idade.

Assim, na semana passada aconteceu-me o mesmo que às pessoas. Fiz anos! Mais um a juntar à soma e a transportar-me até aos 54.

Até aqui tudo bem. Só que a partir de uma certa idade nós começamos a olhar mais para o fim do que para o princípio. Creio ser incontornável. E assim também eu me pus a fazer contas à vida, até chegar à conclusão (sábia?) de que não vale a pena fazer demasiados planos, porque o futuro, bem, o futuro é futuro.

No entanto isso não impediu que eu tivesse sentido uma certa vontade de fazer umas pesquisas. Assim, porque não tinha nada para fazer (que me apetecesse) fui aos grilos. E foi assim que dei por mim a analisar os resultados de alguns escalões de veteranos da maratona de Madrid 2009.

Foi assim que cheguei aos seguintes resultados:

Pelos vistos a velhice é uma coisa um pouco subjectiva, ou não será assim?

Um princípio que eu apreendi desde muito novo é que a função faz o orgão, e não o contrário.

Por isso há que insistir e não desistir.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Está oficialmente aberta a época da caça ao pato bravo.


Assim, a partir de amanhã, vou começar a treinar tendo em vista a minha participação na maratona do Porto, que vai ter lugar em 8 de Novembro.

Não vou começar do zero, pois depois da minha última maratona em 26 de Abril continuei a treinar com regularidade. Nas últimas semanas tenho feito 3 treinos semanais, num total de 40 kms, por semana.

A partir de agora vou tentar aumenter gradualmente o total semanal de kms. o que passa, primeiro, por introduzir mais 2 treinos por semana. Logo, começarei a fazer 5 treinos semanais.

Vou tentar aproveitar as experiências ganhas com os treinos e participações nas 4 maratonas realizadas anteriormente. Sinto que a experiência conta muito neste tipo de provas. Há toda uma série de conhecimentos que só a experiência nos permite alcançar.
Muito embora seja um pouco estudioso da matéria, já deu para perceber que não há regras gerais nem planos de treino universais. Cada atleta é um caso único e o que serve para um pode não servir para outro.

Costumo ler muita coisa de atletismo e apreciar muitos planos de treinos. Deles retiro os princípios essenciais e depois sigo as minhas próprias convicções, sempre atento às minhas próprias limitações.

Uma coisa que eu já absorvi e que considero importante é que 1 mês a mais ou a menos no treino para a maratona faz toda a diferença. Não estou, claro, a falar daqueles atletas que já têm uma base bastante sólida e que “tratam a maratona por tu”. Para aqueles que ainda aspiram a melhorar o seu tempo e a terminar em boas condições 4 ou 3 mêses de treinos é muito diferente. Aqui, 1 mês faz toda a diferença.

O meu objectivo é "muito ambicioso". Conseguir cumprir os 4 meses de treino sem me lesionar, o que, parecendo ser coisa simples, não é. Afinal sempre serão mais de 800 kms. de corrida.

Depois, chegando o grande dia, logo se vê. Se der para melhorar o tempo anterior de 4:12:20 tanto melhor. Se não der, amigos na mesma.

Assim, a partir de agora quando alguém vir por estas bandas a norte do distrito de Aveiro, nesta cidade encravada entre a serra e o mar, um homem de meia idade, de calções, a correr, tal qual um pato bravo a fugir do caçador, ele não vai atrás do nada, ele não vai sozinho. Ele vai atrás do sonho.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Você na TV.


No passado domingo desloquei-me ao Porto, para participar na Corrida das Festas da Cidade.

Foi a minha terceira “competição” este ano. Participei na meia-maratona Manuela Machado, em Viana do Castelo, em Janeiro, e também na maratona de Madrid em Abril. Poucas competições, dirão alguns, e é verdade. A verdade é que o treinar para provas mais longas tira-nos espaço e ritmo para participar em outras provas mais pequenas. No meu caso há ainda a “agravante” de eu ficar “viciado” nos treinos longos de 2 e 3 horas e depois custa-me trocar um treino de 20 ou 25 kms., em ritmo agradável, por uma corrida de 10 kms. São coisas diferentes.

De qualquer modo lá decidi participar nesta corrida, pois também é necessário imprimir um pouco de ritmo à minha corrida, o que sempre virá a dar geito em competições de distâncias maiores. Além do mais também sinto a falta de me envolver no meio sempre agradável e festivo das corridas e de encontrar alguns amigos que de outro modo não encontrarei.

Foi nesta perspectiva que me posicionei na linha de partida, tendo noção clara que não tinha ritmo competitivo, pois embora tenha continuado a treinar assíduamente, tenho-o feito em ritmos suaves, tipo treino para maratona.

Foi assim que fiz uma prova bastante agradável, tendo terminado no lugar 790º. com o tempo de 1:17:18 e tendo ficado com a clara sensação de que poderia, sem grande sacrifício, ter feito bem melhor. Mas certamente que terei feito o que o corpo e a cabeça me ditaram e se terminei com satisfação e alegria para quê pedir mais.

Ontem, no supermercado, um vizinho que costuma ver-me a correr, diz-me: “Você ontem parecia um atleta”. EU? Perguntei. “Sim, vi-o na televisão a correr na corrida das festas da cidade do Porto, parecia um campeão”. Dá sempre “geito”ouvir destas coisas. Obrigado vizinho.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Leões de treinos.

De um artigo da revista brasileira "Contra Relógio" retirei estes ensinamentos, que julgo bastante importantes e sempre actuais.
"Há corredores que acreditam que devem treinar muito (além) para obterem boas marcas. No entanto, se não houver o controle da carga e a programação de períodos de recuperação (pausa e repouso), o risco de cometer excessos será prejudicial à saúde do corredor e ao seu desempenho.
Não é difícil se cometer excessos durante a preparação para uma competição. Um treino longo com os amigos que não esteja programado, por mais confortável que seja o ritmo, pode prejudicar uma semana toda de treinos. O mesmo é válido para um treino intervalado em que o corredor acaba "embalando" nos desempenhos alheios e o treino passa a ser uma disputa sem sentido. Conclusão: o corredor não consegue cumprir com a programação estipulada (devido a uma intensidade superior às suas possibilidades) e desgasta-se ao extremo, prejudicando seus treinamentos posteriores. Há corredores que treinam muito e... competem muito mal. Os "leões de treinos" geralmente transformam-se em "gatinhos mansos" nas competições. Evite essa companhia em seus treinos!
O corredor que concentrar seus esforços em fazer uma preparação adequada (observando-se quilometragem, ritmo e repouso individualizados) tem mais chances de ver seu resultado melhorar com o passar do tempo. Nada se consegue facilmente, mas com dedicação, perseverança e muita disposição. Fórmulas milagrosas e treinos mágicos estão fora de cogitação quando o assunto é treinamento de corrida!"

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Está na hora de começar a estudar.


Para aqueles atletas que pensam correr uma maratona no próximo Outono, está na hora de começarem a "estudar". Aqui deixo uma lição que retirei do site do copacabanarunners, e que, com o devido respeito, transcrevo.
"A maneira mais eficiente de melhorar seu limiar de lactato é correr no seu ritmo de limiar de lactato atual, ou alguns segundos mais rápido. Isso pode ser feito tanto com corrida contínua (tempo run) ou sessões de intervalos longos no seu ritmo do limiar de lactato.
Esses treinos o fazem correr forte o suficiente para que o ácido láctico comece a acumular no seu sangue. Se você treinar em intensidade menor, o estímulo será fraco para melhorar seu ritmo do limiar de lactato. Já se correr mais rápido do que seu ritmo do limiar de lactato atual, irá acumular ácido láctico rapidamente e, desta forma, não estará treinando seus músculos para trabalharem pesado sem acumular ácido láctico. Durante esses treinos, quanto mais tempo você correr no ritmo do limiar de lactato, maior será o estímulo para melhorar.
Treinos no limiar de lactato devem ser corridos perto do seu ritmo em competições que durem uma hora. Para maratonistas avançados, isso geralmente representa o ritmo para corrida de 15 a 20 km. Esta deve ser a intensidade na qual o ácido láctico começa a acumular nos seus músculos e sangue. Em termos de freqüência cardíaca, o limiar de lactato ocorre entre 80% e 90% da freqüência cardíaca máxima, ou entre 76% e 88% da reserva da freqüência cardíaca em corredores bem treinados.
Você pode fazer alguns dos seus tempo runs em competições menos importantes de 6 a 10 km, porém tome cuidado para não se empolgar e realmente competir. Lembre-se que o ritmo ideal para melhorar seu limiar de lactato é correr no seu ritmo do limiar de lactato atual, e não muito mais rápido.
Uma sessão de treinamento típica para melhorar o limiar de lactato consiste de 15-20 minutos de aquecimento, seguidos de 20-40 minutos de tempo run e 15 minutos de desaquecimento. Os treinos de limiar de lactato nos meus programas de treinamento geralmente ficam dentro desses parâmetros, embora alguns programas incluam um tempo run mais longo na faixa dos 11 km. Os intervalados no limiar de lactato são tipicamente 2 a 5 repetições de 5 minutos a 3 km no ritmo do limiar de lactato com 2 ou 3 minutos de intervalo entre as repetições. Para corredores que competem em corridas mais curtas, tanto tempo runs quanto intervalados no limiar de lactato são excelentes formas de preparação. Porém, para maratonistas, os tempo runs são melhores do que intervalados no limiar de lactato. Afinal, a maratona é uma corrida longa e contínua, e tempo runs estimulam mais as condições da maratona do que os intervalados no limiar de lactato. Há vantagens tanto psicológicas quanto fisiológicas nos tempos runs. A força mental extra necessária para realizar um tempo run quando você não está se sentindo ótimo será útil durante a maratona."

segunda-feira, 15 de junho de 2009

A lição chegou do jardim.


Há cerca de dois anos que comprei uma pequena árvore num horto. Dediquei-lhe um lugar de destaque no meu pequeno jardim. Fiz o devido transplante e esperei que ela começasse a crescer e rápidamente se tornasse uma bonita árvore.

Esperei e desesperei. Durante dois longos anos ela alí se manteve e a única coisa que ela fez foi continuar viva. Coisa pouca!?

Para meu desgosto, não cresceu, não deu flôr, simplesmente marcou presença. Eis que, de repente, a árvore começou a desenvolver-se, a crescer a a dar flôr.

Tenho fé naquela árvore. Acredito que ela ainda vai cumprir o seu desígnio e dar-me a alegria de chegar à varanda e vê-la no esplendor da sua beleza.

Entretanto, a árvore teve de descobrir o seu próprio caminho e aprofundar as suas raízes e quando já ninguém acreditava nela, apareceu.

Também assim é a vida das gentes. Às vezes andamos por aí, não sabemos ao quê, até que chega a nossa hora. Saibamos esperar, o que não é fácil.

Esta pequena reflexão, aparentemente insignificante, motivou-me para o treino de ontem. Como de costume levantei-me cedo, só que a motivação para ir correr não era muita. Fui até à varanda e, olhando a tal árvore, quase sem dar conta, dei comigo a fazer esta reflexão.

Lá me equipei e fiz um bom treino.

Um dia, quem sabe, talvez consiga fazer menos de 4 horas numa maratona... seja eu capaz de seguir o exemplo da árvore.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Uma pequena maldade?







Há já longos anos que os amantes da corrida têm como referência, no mês de Junho, duas corridas especiais: a “Corrida das Fogueiras” em Peniche, que costuma ter lugar no último sábado de Junho, e a “Corrida das Festas da Cidade”, no Porto, que costuma acontecer por volta do dia 20 do mesmo mês.

Tem sido assim, desde que me lembro de participar em corridas.

Este ano, não sei porquê, algo mudou. A corrida de Peniche é no dia 27 à noite e a corrida do Porto é na manhã do domingo seguinte, o que desde logo inviabiliza a participação nas duas daqueles que ao longo de muitos anos se habituaram a marcar no seu calendário aquelas duas provas.

Não havia necessidade, creio eu. Desconheço os motivos que levaram a Runporto a alterar a sua tradicional data, pelo que não posso fazer juízos de valor. O que posso dizer, isso sim, é que o atletismo ficou a perder.

terça-feira, 2 de junho de 2009

quinta-feira, 28 de maio de 2009

De vitória em vitória até à derrota final.



De um livro de estudos de uma das minhas filhas, já lá vão muitos anos, retive a história que passo a descrever.
Certo homem, obstinado por natureza, teimou que poderia atirar-se em queda livre de um prédio de vários andares, que nada lhe aconteceria.
Apesar de alguém, sensatamente, o ter advertido do risco de tal acção, o mesmo achou por bem levar por diante a sua ideia, apelidando de “medricas” os tais sensatos interlocutores.
E se bem o pensou, mais depressa o fez.
No dia tal subiu a um prédio de 20 andares e toca de atirar-se em queda livre por aí abaixo.
E lá vai ele em queda livre!
Passa pelo 19º. andar e nada lhe acontece. Eufórico, continua a sua vertiginosa queda.
18º., 17º. 16 e por aí a diante, sempre a cair. Passa pela janela do décimo andar e, entusiasmado, clama:
- Vêem, estou vivo, nada de mal me aconteceu!
E lá continua o simpático homem a sua aventura. 9º., 8º., 7º., 6º,. 5º., e nada de perigo. Novamente o homem clama:
- Maravilha, é sempre a abrir!
Mais perto do chão, o distinto continua a sua queda, e mesmo quando chegado ao 1º. andar sente-se entusiasmado e grita:
- Estou vivo!
Mesmo perto do fim, com a morte à vista, o homem sente-se eufórico e confiante e exulta porque apesar da sua queda nada de mal lhe aconteceu.
E no entanto o seu fim está a umas décimas de segundo…
Esta história está contada à minha maneira, pois o único arquivo que tenho da mesma é a minha memória. Creio, no entanto, que reflecte a ideia original.
Aplicava-se a uma disciplina de “Ciências do Ambiente” mas creio que a sua moral não pode ficar por aí. Pode ser adaptada por cada um de nós a muitas situações do nosso dia a dia, atletismo e corridas incluído.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

A obra é do artista.




Por vezes olhamos para certas obras e simplesmente ficamos indiferentes. Não raras vezes desdenhamos das mesmas. E isto por um ou por muitos motivos: não temos conhecimentos suficientes para avaliar tal obra; não prestamos a devida atenção aos pormenores importantes; não gostamos do artista; a obra vai contra os nossos princípios ou valores, etc..

Assim, na maior parte das vezes o artista é “condenado” a viver sozinho com a sua obra, chegando, muitas vezes, a escondê-la..

Mas, como diz o provérbio, “o verdadeiro artista nunca se cansa”.

Só o artista conhece o essencial da sua obra. Sabe de que sonhos ela nasceu; quantos sonhos ajudou a manter; quantas dores e desilusões provocou; quanto cansaço ocasionou.

Por tudo isto se é justo que o artista peça que respeitem a sua obra, justo é, também, que o artista compreenda que não é lícito exigir aos espectadores que vibrem com uma tela, uma representação, uma escultura, um poema, uma corrida, uma vez na maior parte das vezes a sua compreensão não vai para além daquilo que os seus olhos podem observar ou os seus ouvidos podem escutar. O sentimentos, esses, são muito mais dificilmente perscrutáveis.

Uma vez aceites estes princípios tudo será mais fácil. Assim, muitas coisas poderão acontecer:

de certeza o cantor voltará a cantar;

de certeza o actor voltará a representar;

de certeza o pintor voltará a pintar;

de certeza o escultor voltará a esculpir;

de certeza o poeta voltará a escrever

e de certeza o atleta voltará a correr (ainda com mais força).

Depois da minha última corrida em Madrid, apareceram-me alguns sentimentos contraditórios. Vim a verificar, alguns dias depois, que outras pessoas, em situações semelhantes, viveram emoções idênticas.

Na altura o meu "lado romântico" deitou cá para fora esta "prosa". Não a publiquei naquela hora, mas ficou guardada no computador. Hoje decidi publicá-la.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Do Paseo de Recoletos ao Parque Del Retiro.

Finalmente, depois de tantas semanas de treinos, ali estava eu em Madrid, em pleno “Paseo de Recoletos”, para dar início à minha 4ª. maratona. .Gostei de ver na linha de partida todos os atletas em estado de reverência perante algo que estava para acontecer. Por alguns momentos olhei à minha volta e tentei imaginar o que iria na alma daquelas pessoas que me rodeavam. O sentimento geral era de profundo respeito. Respeito? Medo? Como são tão diferentes as linhas de partida de uma corrida de 5 ou 10 kms. e de uma maratona! São estados de espírito totalmente distintos. Salvo algumas raras excepções de pequenos grupos em que as pessoas aparentavam grande descontracção, todos os restantes atletas apresentavam uma ar concentrado e pensativo.

Dado o tiro de partida, lá avançaram os atletas para a “sua prova”. Sua, sim, porque se trata de um desafio pessoal. Estava muito frio e a chuva que ameaça cair passou-se das ameaças e começou mesmo a cair. Durante algum tempo o céu estava tão negro que eu pensei que iríamos ter uma maratona totalmente realizada debaixo de um temporal. Afinal, tal não veio a acontecer, pois não tardou a aparecer o bom tempo que permaneceu até ao fim da corrida e continuou pelo resto do dia, permitindo, assim, que a festa tivesse um brilho diferente.

O pelotão seguia compacto, o que, no meu caso pessoal, aconteceu até ao final da corrida, pois estive sempre rodeado de muitos atletas. Por acaso, e só por acaso, fiquei posicionado junto aos balões (2 grandes balões azuis) das 4 horas.

O meu objectivo era fazer a primeira metade da prova em 2h 06minutos (média de 6”/Km). A segunda metade, bem, logo se veria… Tentaria fazer melhor do que nas maratonas anteriores, em que o meu melhor tempo tinha sido 4h 32”. Pelos treinos que tinha realizado, sabia que isso era possível, mas também sabia que prognósticos… só no fim. Afinal quem, em consciência, pode, numa corrida de 42 kms., responder pelo comportamento do seu corpo. Quem sabe como o mesmo vai reagir? Afinal, dependemos de tantos músculos, de tantas enzima, de tantas reacções químicas…

Curiosamente, talvez efeito do ambiente envolvente, esqueci-me de todo de que estava numa corrida de mais de 4 horas. Só quando já tinha uma hora de corrida é que tomei verdadeira consciência de que ainda teria de correr mais 3 horas, pelo menos. A certa altura, ainda nos primeiros quilómetros, passámos junto ao Estádio do Real
Madrid e alguns atletas que seguiam no meu grupo começaram a cantar:
- “Peeepe!”; Peeepe!”.
Era o efeito do episódio recente da agressão e consequente castigo de 10 jogos aplicados ao jogador Pepe.
Entretanto, ao meu lado seguia um grande grupo de atletas, todos muito jovens, vestidos de amarelo.
Entoavam cânticos militares e transportavam uma bandeira. Tratava-se de um grupo de jovens pára-quedistas. Nos seus equipamentos tinham inscrito “Brigada Pairaquedista”. A maneira como os mesmos entoavam os seus cânticos emprestava à corrida um certo ar de vitória que, no meu caso pessoal, me empolgou muito. Um dos jovens cantava e os outros respondiam em coro. Bonito! Será que eles conseguiriam manter aquela postura até ao fim da maratona?

Fui seguindo junto aos balões das 4 horas. Por vezes achava por bem ficar para trás, pois 4 horas estava acima dos meus objectivos, e tinha receio de estar a andar demasiado rápido no início. No entanto, como me sentia bem, lá fui mantendo o andamento. Passei à meia maratona com 1h 58”, ou seja com menos 8 minutos do que o previsto. Lá fui seguindo e consegui, sem grande sofrimento, chegar aos 30 kms. com 2h 50”. Tinha planeado fazer os primeiros 30 kms. em 3 horas, pelo que mantinha um bom “mealheiro” de 10 minutos. Entretanto passámos por alguns locais onde o público era tanto e tão entusiasta que me fez lembrar as chegadas em montanha da volta à França em bicicleta em que os ciclistas quase são sufocados pela multidão. Foi arrepiante!

Por volta do km. 30 estava lá um senhor que gritava para os atletas “Ânimo! Vêem, não tem aí nenhum muro !”.O homem sabia do que falava. E era verdade, não estava ali nenhum “muro”. Entretanto a prova tinha entrado no “Parque da Casa de Campo” e durante largos quilómetros fomos correndo dentro deste bonito parque.

Eu sabia que o final da prova seria difícil, pois os últimos quilómetros eram quase sempre a subir. Por volta dos 38 kms. comecei a sentir sinais do dito “muro”. Tinha planeado não caminhar durante a prova. Gosto de fazer planos e de ser fiel aos mesmos. Mas, por vezes, temos que ser realistas. Assim, fiz, e a breves espaços, caminhei.
Por esta altura a “Brigada Pairaquedista” continuava perto de mim, como, de resto andou durante toda a corrida. Umas vezes à frente, outras atrás. Os seus cânticos já não eram tão frequentes nem tão fortes. Contudo, nesta fase final, também eles se excederam e fizeram das tripas coração, pois havia que manter a imagem de vitória e neste caso a assistência não perdoava.
Faltam agora cerca de 2 kms. e a partir daqui seria sempre a subir. Já tinha tomado duas saquetas de gel e achei que tomar mais uma seria gel a mais. Tomo ? Não tomo? Tomei! Já não iria fazer nada, creio eu, pois o efeito não é imediato, mas como as forças já eram poucas qualquer incentivo iria ajudar. Por esta altura já tinha perdido os minutos amealhados. Agora há que cerrar os dentes e ir lá ao fundo, mesmo bem ao fundo, buscar aquelas energias que vêm mais da cabeça do que das pernas, que a “glória” está para vir. Entretanto muitas pessoas incentivavam os atletas, e algumas diziam umas palavras mágicas: “Força, já falta pouco para a fotografia”. Sobe-se, sobe-se mais ainda, faz-se uma curva e ainda mais subida.
Entrei, finalmente, no “Parque Del Retiro”.



Estrada larga e agora começa um percurso plano, ligeiramente a descer em algumas partes. De ambos os lados muita gente a assistir e a incentivar. Consigo ver a minha mulher, que ainda tenta tirar-me uma foto, mas, na hora da verdade, outro atleta passou à minha frente e “roubou-me” o registo.

Para colmatar a falta da minha claque, a minha mulher lá me conseguiu arranjar uma claque “emprestada”.
Começo a ver a meta e o relógio que marca 4h e 11”. Dá-me uma força danada e corro com entusiasmo. Não foi do gel, de certeza. O gel chamava-se “meta à vista”. Chego, por fim, à meta, com o relógio a marcar 4:12:20.

Terminei a prova à Nuno Gomes, um braço no ar e outro a beijar a aliança. Emoções à flor da pele. Corredor tem destas coisas. Por momentos só me apetecia sentar e chorar.
Mas não era daquele chorar de olhos húmidos. Era chorar mesmo a sério. Não tinha encomendado esta cena, mas se ela apareceu é porque fazia sentido…para mim. Lá consegui sufocar as emoções e seguir o meu caminho.

Passada a meta foi tempo de receber a medalha

e outros prémios (fruta, coca-cola, nestea, leite, pacote de frutos secos, e outras coisas mais) . Gostei do agasalho plástico que deram aos atletas, e que muito jeito deu. Pequeno grande pormenor. Levantei a roupa que tinha deixado na partida e saí. Senti-me um pouco enjoado e aproveitei para descansar, deitado, na relva, onde muitos outros atletas faziam o mesmo. Que bem me soube este descanso de alguns minutos.

Recuperado, regressei para junto da minha mulher, que me esperava. No caminho, tive o prazer de encontrar o Fernando Andrade, que eu não conhecia pessoalmente, e que por ali andava a procura de um companheiro. Feliz acaso. Por alguns breves minutos trocamos impressões e despedimo-nos.

Chegado ao hotel há que tomar banho e a vida contínua. Gerir as emoções e saborear a vitória são coisas que virão nos dias seguintes.