terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

25 de Abril a 26.

Este ano o meu 25 de Abril vai ser a 26.

É assim, vou participar na maratona de Madrid, que se realiza a 26 de Abril. Já tenho tudo preparado. Inscrição paga, hotel reservado e bilhetes de avião já comprados.

Agora já não há maneira de voltar para trás. Só uma situação mesmo extraordinária me impedirá de me deslocar a Madrid naquela data, o que espero não venha a acontecer.

Porquê uma maratona e porquê Madrid?

Uma maratona, porque fiquei “cliente” deste tipo de corridas, já que é uma distância que se adapta ao meu perfil psicológico, isto é, gosto de correr longas distancias em ritmo moderado. Não sou pessoa de passar os fins de semana a competir em corridas de distâncias mais curtas. Entre uma corrida, em competição, de 5 ou 10 kms. e um treino de 25 kms, em ritmo suave, ao encontro da natureza, não tenho dúvidas na escolha.

E porquê Madrid? Ponderei outras provas, a saber:

Sevilha, foi no passado fim de semana e a minha experiência diz-me que nesta altura do ano o tempo tende a estar bastante frio e desagradável e eu não quis arriscar a fazer uma viagem tão longa e dispendiosa só para correr, sem o privilégio de fazer um pouco de turismo. Afinal, contrariamente ao que eu previa, o tempo até esteve agradável.

Barcelona, é no próximo fim de semana, mas como já lá corri no ano passado, achei que seria falta de imaginação estar a repetir. Seria mais do mesmo.

Roma, foi a hipótese mais forte. É numa altura boa (22 de Março), e estive quase inscrito. Desisti desta hipótese porque como vou com a minha mulher e quero aproveitar para fazer um pouco de turismo, acabava por ficar bastante dispendioso.

Ficou, assim, Madrid. Nunca foi a minha primeira escolha, pois tenho receio que na altura o tempo já esteja demasiado quente para uma corrida der 42 kms. De qualquer modo, como não vou para ganhar, mais calor ou menos calor lá hei-de chegar ao fim.

Agora só resta treinar e, como diz o outro, ajoelhoooou, vai ter de rezaaaaar.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O lado bom das coisas.












Tudo na vida tem duas faces (no mínimo!).

O problema é que nós só gostamos de aproveitar o lado bom das coisas. Mas não pode ser assim. Isso seria o mesmo que nós querermos chegar à Primavera sem termos sofrido os rigores do Inverno, ou vivermos o dia sem termos de passar pela noite. Oh, e como é longo, frio e escuro o Inverno.

Devido a esta perspectiva comodista da vida (sim, todos nós temos um pouco de "bon vivant" dentro de nós), muita coisa boa fica por fazer, muitos sentimentos por viver, muitos projectos por realizar.

Mas é isso o que vem acontecendo no quotidiano de cada um de nós. A uns numas situações e a outros em situações diferentes.

Peguemos no exemplo do casamento. Todos nós gostaríamos de ter uma pessoa totalmente disponível ao nosso lado, sempre pronta a dar, sempre receptiva, e por aí adiante. Só que o casamento também implica alguma perda de independência da nossa parte, também temos de estar disponíveis para o outro, também temos de abdicar de alguma realização profissional e/ou pessoal. E aí é que a coisa se torna difícil. E, muitas vezes, parece mais fácil desistir.

O mesmo acontece na educação dos filhos. Todos nós gostamos de ver o sorriso dos nossos filhos e as suas alegrias. Gostamos de receber os seus afectos. Mas nem todos estamos disponíveis para aturarmos as suas variações de humor e as suas ansiedades naturais (como se os filhos também não aturassem as nossas). Nem sempre estamos na disposição de deixarmos que eles “mandem” na nossa vida. Por isso, muitas vezes há que fugir. E, como a vida não anda para trás, assim se vai perdendo muita coisa.

Na corrida também se passa o mesmo. Todos (ou muitos.... pelo menos) gostaríamos de chegar à Primavera e, quase que por um qualquer golpe de magia, estarmos preparados para irmos correr uma meia-maratona ou, quiçá, uma maratona. Só que, pelo meio, passou um longo Inverno e nós não fomos capazes de conviver com ele. Adormecemos…diria que quase hibernamos. Assim, começamos a fazer uns treinos logo que desponta a Primavera e só lá para Junho é que vamos ter uma condição física apreciável. E como em Julho, Agosto e Setembro o calor é demasiado intenso, quase não vale a pena começar a treinar. E depois chega novamente o Inverno, e depois novamente a Primavera, e tudo se vai repetindo ciclicamente.

Lá diz o ditado que “para ver Maomé é preciso subir à montanha”.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A minha ultramaratona.

Mais tarde ou mais cedo todos iriam saber. É verdade que estou a participar numa ultramaratona.

Longos são os quilómetros. Neste momento já vou a mais de metade do percurso.

Mas, vamos lá começar o relato pelo princípio.


Sem dar conta, estava eu na estrada juntamente com muitos outros corredores. No princípio era a incerteza e o desconhecido, que me obrigaram a ter cautelas e a correr num ritmo muito lento, pois não conseguia imaginar o que me iria aparecer pela frente, tamanha era a novidade.

Lá por volta do quilómetro 12 comecei a sentir mais alguma confiança e aumentei um pouco o ritmo. Senti que, sabe-se lá porquê, o treinador não apostou muito em mim e por isso tive de ser treinador de mim próprio e ir aprendendo à custa dos erros que ia cometendo. Lá fui correndo quilómetros atrás de quilómetros num ritmo mais ou menos constante. No percurso fui acompanhando alguns corredores em quem confiei, pois no fundo estavam na mesma corrida, corredores esses que passados alguns quilómetros me passaram uma rasteira. Por algumas vezes ia caindo, desequilibrado. Creio mesmo que cheguei a cair uma ou outra vez. Mas lá fui continuando, papando quilómetros.


Por volta do quilómetro 23 juntei-me a uma colega de estrada que me foi ajudando a percorrer a longa maratona. Lá fui correndo, e assim passei os quilómetros 25, 30, 35 e por aí adiante. Por volta do quilómetro 30 tive alguma quebra, senti a dor de burro, parei para caminhar e senti vontade de desistir. Aí foi importante a ajuda da minha companheira de corrida, pois deu-me a mão e obrigou-me a seguir em frente.


E assim, de passo em passo e de quilómetro em quilómetro, cheguei até aqui ao quilómetro 53. Nesta altura do percurso e depois de todos os quilómetros percorridos a frescura já não é a mesma, por isso impus a mim próprio um ritmo mais moderado e o mais constante possível, pois sei que ainda me faltam muitos quilómetros para completar esta ultramaratona e eu quero chegar ao fim.

Enquanto vou percorrendo a estrada vou olhando para trás e analisando muito do que me foi aparecendo ao longo do caminho. Consigo lembrar-me de muitos companheiros que estavam comigo na linha de partida e que já ficaram pelo caminho. Alguns eram autênticos corredores de 100 metros. Cedo percebi que não iriam chegar ao fim… Outros também davam sinais de que não iriam ter força suficiente para continuar a correr assim que o terreno começasse a subir. Assim aconteceu. Logo que o terreno se inclinou um pouco, de imediato ficaram para trás e embora ainda não tenham desistido de vez, continuam mas com um sofrimento inglório e desumano, que mais valeria desistirem.

Também consigo lembrar-me das pessoas que na beira da estrada me foram incitando, aplaudindo e dando os abastecimentos. Recordo-me, também, de outras pessoas que ao invés de me aplaudirem ainda criticaram o meu esforço e o meu ritmo de corrida. Gostariam que eu tivesse encostado na beira da estrada, como eles mesmo fizeram.




Enquanto vou pensando, vou correndo, sereno e confiante de que conseguirei completar esta ultramaratona. Sei que os quilómetros finais serão difíceis, mas como já estou prevenido conto conseguir passar por eles sem grande quebra.