segunda-feira, 23 de março de 2009

Corredor de fundo.

Do site do "Atletas.net", retirei esta "pérola", que ,com o devido respeito, transcrevo. Reconheco-me em muito do que aqui está escrito e concerteza o mesmo acontecerá com muitos outros corredores.

"O corredor de fundo é um tipo muito especial de atleta. Muita coisa o distingue dos demais atletas e das demais pessoas, mas nenhuma é mais marcante que a solidão. Na vida, as maiores lutas do homem são travadas na solidão. Assim acontece nas corridas de longas distâncias, por isso o fundista é mesmo um tipo muito especial de gente.
Sendo uma pessoa especial, nem sempre é fácil compreendê-lo. Na verdade, quem se dispuser a estudar a personalidade do corredor de fundo, verá que esse tipo de atleta é um sonhador, quieto, introspectivo e muitas vezes temos a impressão que são arrogantes, mas na verdade é pura timidez.Nas corridas de longas distâncias a maior virtude é a paciência. Então eu recomendo aos meus atletas que não corram forte antes de poder correr fácil. O nome já diz, corrida de resistência, então quanto mais quilometragem melhor e se possível com conforto.Como foi abordado na matéria sobre treino de corredores de meio-fundo, o desenvolvimento completo de um corredor de fundo, baseia-se na mesma premissa, muitos e muitos anos de treino para se atingir o máximo do rendimento, nada mais que o óbvio."...

sexta-feira, 20 de março de 2009

Primavera.


Ouvi dizer que hoje começava a Primavera. Confesso que não estava muito atento à situação. E porquê? Sim, porquê?

A resposta é simples. É que este ano eu decidi antecipar a minha Primavera. Sim, este ano minha Primavera começou no início do passado mês de Janeiro, quando eu, ligeiramente sufocado pelo Inverno que se havia instalado e que estava para ficar, tomei a decisão de ir correr a maratona de Madrid, que é em 26 de Abril próximo. Aí começou a minha Primavera.

E porquê? Porque a partir dessa altura comecei a levantar-me mais vezes mais cedo, para treinar, logo os meus dias começaram a ficar maiores; os meus dias começaram a ter mais luz, pois treinando mais, convivi mais com a natureza; os meus dias começaram a ter mais calor ( e transpiração); comecei a ter a alegria natural da primavera, alegria essa derivada do “sonho” que a partir de então se instalou em mim.

Assim, posso dizer que em relação à maioria dos mortais vou com um ligeiro avanço.

Entretanto, desde então tenho vindo a treinar com esse objectivo. Tenho ainda mais um mês pela frente e espero chegar ao dia “D” na melhor forma possível. E o que é a melhor forma possível? É precisamente a forma que me permita correr e terminar a prova dentro das minhas possibilidades profissionais, físicas, mentais e atléticas. Sim, porque cá para mim, independentemente do tempo que eu venha a fazer, o que realmente me interessa é que durante 3/4 meses eu alimentei um sonho, tive um desafio, desafiei o marasmo e vivi. Por isso, na tarde do próximo dia 26 de Abril vou ter de tomar uma decisão muito importante. Qual será a próxima?





terça-feira, 10 de março de 2009

Um pequeno rebento.




Era um pequeno arbusto que foi crescendo. Debaixo de sol e chuva lá se foi tornando árvore. Nunca chegou a ser árvore de grande porte. Daquelas que têm um tronco largo, difíceis de vergar. Fazia mais lembrar aquelas árvores de porte mais pequeno, que, dando-lhes o vento, vergam para aqui e para ali. Apesar de tantas intempéries e de tanto vento suportar, lá conseguiu que o seu tronco nunca quebrasse e que as suas raízes continuassem firmes na terra.

Um dia, faz hoje 26 anos, dessa pequena árvore, que tinha sido arbusto, brotou um rebento. Rebento que foi crescendo, que também se tornou arbusto e que hoje também é árvore.

Mais tarde, quando esta árvore se tornar mais velha e secar cá ficará este rebento, e mais outro que tinha nascido dois anos antes, a perpetuar (durante quanto tempo?) a sua vida.

O ser humano procura incessantemente, a vida eterna. Para mim, nesta altura, é o mais próximo de tal busca que eu consigo encontrar.
Parabéns filha.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Traído pelo instinto.


A caminho de Madrid lá vai José no seu treino, longo, de fim de semana. Já passou o ponto de retorno, por volta dos 13 kms. e segue, agora, de regresso ao ponto de partida. Quando chegar ao fim terá feito cerca de 26 kms..

E é assim, em ritmo controlado, que segue, ora olhando a paisagem, ora olhando o pulsómetro que lhe vai indicando a frequência cardíaca, pois José tem por hábito ligar mais à frequência cardíaca do que ao ritmo de corrida por minuto. Foi isso que aprendeu, que para treinar para uma maratona conta mais atender à FC do que ao ritmo. Pontos de vista, dirão alguns, e com a “sua” razão.

Do lado esquerdo da estrada vê-se a ria de Aveiro. Do lado oposto vêem-se terrenos de cultivo. Algumas casas, que vão alternando entre casas de lavradores e pescadores, modestas, e outras de luxo, moradias de construção relativamente recente.

Por vezes passam carros. Velozes, apesar dos radares que com frequência a polícia ali instala. É que as rectas são tão longas que o convite à velocidade é grande. Só José é que não se pode dar ao luxo de acelerar, pois ainda faltam muitos kms. Assim, José, que vai sozinho, não se sente só, pois tem muita coisa em que pensar. É o lado bom destes treinos longos. Há tempo para pôr as ideias em dia.

E assim continua José. Lá ao longe vê uma curva, que parece desdenhar desta recta, como que dizendo “és longa mas hás-de chegar ao fim.

Entretanto, escondido atrás de um pequeno muro, qual caçador furtivo, está um pequeno cão. José não o vê. José segue tranquilo, quase que anestesiado. Eis que, de repente, como que surgindo do nada, o pequeno cão, no melhor do seu instinto, vendo José ao seu alcance, se lança desenfreadamente à estrada procurando alcançar as pernas de José.
Azar o seu. Ao longe, a grande velocidade, surge um automóvel, que só tem tempo para fazer uma travagem e um pequeno desvio. Por um tris o automóvel não apanha o cão que, assustado, com o rabo entre as pernas, regressa ao seu posto. Por uma fracção de segundo o cão não foi atropelado.

Também assustado pelo imprevisto, continua José o resto do seu treino. Pensa naquilo que acabou de presenciar e de que também foi personagem. Pensa também em tantas situações, semelhantes, passadas no quotidiano de cada um de nós, que têm, como figurantes, não cães, mas pessoas. Quantos de nós já não fomos apanhados pelo instinto predador de algumas “pessoas” que aproveitando o nosso embalo e a nossa confiança, se atiram a nós. Umas vezes sorrateiramente, quase sem percebermos que ali há lobo, e outras de forma descarada. Nestas situações da vida nem sempre a história acaba da mesma forma. Por vezes acabamos mesmo por sermos mordidos nas canelas. Outras, porém o mal vira-se contra o seu autor… felizmente.