quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Dois mendigos e um pouco de ternura.


Há o 7 o 8 e o 9 que vão para os Aliados; há o 55 o 69 e outros mais que vão para o Bolhão e há muitos outros, que vão para outros tantos lados.

Há ainda o 227 que sai da Praça da Galiza e termina a carreira no Parque da Cidade, depois de passar pelo Castelo do Queijo, Arrábida, Afurada, Freixo, etc..

O 227 (parece número de autocarro mas não é) tinha acabado a sua corrida há poucos minutos. 4 horas e 18 minutos depois de ter partido da Praça da Galiza, junto ao Palácio de Cristal, ei-lo chegado ao Parque da Cidade. Triunfante mas nem tanto...

O 227 ainda esboçou uma tentativa para ir à zona das massagens, pouco concorrida naquele momento, mas achou que mesmo deitado ia ser difícil aturar alguém a mexer no seu corpo. Por isso lá se apressou a ir para o carro.

Lá chegado, abre a mala do carro e puxa de um powerwade e de uma barrita. Escasso de forças o 227 senta-se na mala do carro e fixa o horizonte. Do horizonte surge, então, pálida, magra e com aspecto doente uma senhora/rapariga que se-lhe dirige e lhe pergunta:

- Senhor, não tem um euro que me dê? É para eu comer qualquer coisita.
Maldisposto, o 227 responde:

- Não tenho moedas.

A rapariga afasta-se.

Pouco depois, nova incursão.

- Senhor, sabe se ali estão a dar bananas?
O 227, ainda em recuperação, olha e não responde.
- Ou será que só estão a dar aos atletas?

Já mais recuperado, o 227 chama a rapariga e diz-lhe:

- Tome lá um euro.
- Muito obrigada, responde a rapariga.

Alguns minutos depois:

- Os cafés estão todos fechados, não posso comprar nada, diz a rapariga.

O 227, ainda mais recuperado, vai ao saco e pega numa banana que tinha trazido de casa, e dá-a à rapariga:

- Tome lá, coma-a.
- Obrigada senhor.
- O senhor correu os 42 kms.? Eu nem caminhar posso, tenho que tomar oxigénio. E lá continuou a conversa durante mais alguns minutos.

Por momentos dois mendigos (um sem forças e outro sem comida e sabe-se lá mais o quê) sentiram-se iguais. Ao 227 pareceu-lhe que mais do que um euro e uma banana a rapariga tinha gostado da conversa e de sentir-se tratada com carinho. E o 227 também veio com o coração mais cheio.

sábado, 21 de novembro de 2009

Quem quiser chorar que vá para Espanha.


Não é que eu seja grande corredor (sou antes uma espécie de corredor) mas isso não invalida que já conte com 5 maratonas corridas, cada uma com uma experiência única e particular.

Se de todas elas guardo gratas recordações, como, de resto, de todas as corridas em geral, há experiências que são mais marcantes. Foi o que me aconteceu nas maratonas de Barcelona e de Madrid. Aí eu fui às lágrimas. Só não chorei porque não levava lenços.

O mesmo não aconteceu nas outras três vezes que corri a maratona (Porto 2008 e 2009 e Lisboa 2008), situações que foram muito importantes para mim, que apreciei imenso, mas que não tiveram aquela carga emotiva que só consegui atingir em Espanha. Acho que a diferença está na festa que é criada à volta da corrida. Em Espanha (falo de Espanha porque é o que eu conheço) estão milhares de pessoas a assistir à corrida e o seu apoio e incentivo aos atletas é verdadeiramente excepcional. E, na hora da verdade, é isso que faz a diferença e nos faz atingir estados emocionais difíceis de atingir noutras situações em que corremos práticamente sózinhos.

Prevendo eu ir à maratona de Paris em Abril do próximo ano e contando esta prova com cêrca de 40.000 corredores, está fácil de ver a festa que vai ser à sua volta. Por isso estou a prever que Paris também seja de ir às lágrimas.

Assim, desta vez, além das saquetas de gel e das barritas, também vou levar lenços..

muitos lenços.

José Alberto

domingo, 15 de novembro de 2009

O respeitinho é uma coisa muito linda.

Andava eu às voltas a pensar nas razões da minha menos conseguida prestação na maratona do Porto, quando o Joaquim Adelino colocou um comentário no meu blog que dizia:



Pôsto isto acho que está quase tudo explicado.

E ponto final!

Não fosse eu um tipo um pouco teimoso e sempre procurando saber o porquê das coisas e ter-me-ia dado por satisfeito. O certo, porém, é que eu gosto de ir ao fundo das questões e embora ainda hoje não tenha resposta para muitas das minhas dúvidas (por exemplo: ainda não descobri o que apareceu primeiro, se a galinha ou o ovo), lá continuei a cismar.

Então é assim:

Apesar de a maratona ser uma prova de resultado sempre imprevisível eu creio que falhei na abordagem à mesma. A verdade é que eu fui para a prova com demasiada descontração. Eu, que sou um homem de contas, tinha tudo planeado: quanto tempo pensava fazer; quais seriam os meus tempos intermédios (10 kms./20/kms/30 kms); qual o ritmo médio para atingir tais tempos, etc..

Porém, na hora da verdade, fui na onda. Ainda hoje me custa a aceitar o à vontade com que eu me deixei entusiasmar pela envolvência. É certo que tudo bateu certo para que me deixasse levar pelo entusiasmo (foi o encontrar velhos amigos; foi o conhecer novos amigos; foi o deixar-me confundir pelo ritmo imposto pelos corredores dos 14 kms. que iam passando; foram as bandas de música a tocar e foram outras coisas mais). E, carago, no fundo já era a minha 5ª. Maratona, além de maratonista eu também já era maratoniano.

Acresce ainda o facto de em termos de treinos longos, e aqui falo de treinos de 30 kms., eu ter ficado aquém do necessário, o que, no meu caso pessoal, pode ter feito toda a diferença.

Quanto à corrida em si, foi mais ou menos assim:

No sábado à noite preparei todos os detalhes, de maneira a que logo no domingo de manhã eu estivesse pronto sem grandes problemas. Assim, domingo de manhã levantei-me bem cedo e logo depois arranquei para o Porto. Eram cêrca de 7:25 já eu estava no Parque da Cidade, tendo entrado no primeiro autocarro que partiu para o local de partida, onde terei chegado um pouco antes das 8:00. Mal lá cheguei encontrei um grupo de amigos aqui da blogosfera que estavam a tirar fotografias para a posteridade (o António Almeida, Fernando Andrade, Ana Pereira, Vitor Veloso, Joaquim Adelino, Luís Mota e alguns familiares). Cheguei mesmo a tempo de entrar nas fotos, após o que tive o prazer (grande) de cumprimentar alguns amigos e de trocar algumas palavras. Neste entretanto também tive a oportunidade de conhecer pessoalmente o João Meixedo, o Ricardo, o Miguel Paiva e o José Brito e a Otília Leal, o que me deu uma grande satisfação, se bem que o momento não fosse para grandes conversas, pois o tempo era pouco e a ansiedade era grande e começava a crescer.

Mal tive tempo de aquecer e de fazer um pouco de ginástica e quando dei por mim já estava no local de partida à espera que soasse o sinal.

Dado o tiro de partida lá arranquei e fui percorrendo os kms.. Atendendo ao facto de os primeiros quilómetros serem a descer, o ritmo foi mais rápido. A juntar a isto há também o facto de nós nos vermos envolvidos pelos atletas das duas outras competições que, óbviamente, têm ritmos mais rápidos. Aqui fui ultrapassado por alguns colegas aqui da minha terra que iam para os 14 kms. e que deram algum incentivo. Passei aos 10 kms. com 53:28 (bem bom...infelizmente). Entretanto, lá por volta dos 12 kms. ouço uma voz vinda de trás de mim, que diz – “Ui Alberto”, era o Renato Cruz, que conhecia da Maratona de Lisboa do ano passado. Fomos juntos até por volta dos 22 kms. Este homem é um espectáculo. Ele puxa pela assistência, ele bate palmas às bandas.. É, de facto, uma companhia muito agradável. Foi bonito o momento, muito esperado por ele, de se encontrar com a família debaixo da ponte da Arrábida e ali exibir uns momentos de ternura familiar. Num determinado momento incentivei o Renato a avançar, pois sentia que ele poderia fazer melhor do que eu, e assim continuei sózinho. Entretanto, havia passado os 20 kms. com o tempo de 1:49:58, o que continuava a ser “demasiado” bom para as minhas expectativas. No retorno cruzei-me com o Joaquim Adelino que ia umas poucas centenas de metros à minha frente e retive desta passagem a concentração e o espírito determinado com que ele seguia. Lá fui seguindo a minha corrida, tendo passado os 25 kms. com 2:18:46, os 30 kms. com 2:47:56. e os 35 kms. com 3:20:43. Esta marca de 3:20:43 dava para, mantendo o mesmo ritmo, terminar a prova com 4 horas, o que, sinceramente, nunca tinha estado nos meus objectivos, pois havia apontado para um tempo na ordem das 4:10/4:15.

Posso dizer que até aos 35 kms. a minha corrida foi um completo passeio. Muito prazer e pouca dor, sempre a incentivar e a cumprimentar os atletas que se cruzavam comigo. Seguia como se fosse para a festa.

Até que, de repente, lá por volta dos 36 kms. e num espaço de umas poucas centenas de metros a minha energia foi-se. É quase como um “desmaio” energético. De um momento para o outro a nossa força desaparece e ficamos à mercê de eu sei lá o quê. A partir daí foi uma corrida/caminhada solitária até à meta. O curioso é que apesar da falta de forças a cabeça só tem uma coisa em mente que é avançar e terminar a prova. Alternei a corrida com alguns momentos de caminhada, mas mesmo quando caminhava era com muita determinação. Nestes últimos kms. perdi muito tempo, demasiado tempo. Demorei os seguintes tempos para percorrer os últimos kms.: km. 36/6:49:04; km. 37/7:10:02; km. 38/7:40:58; km. 39/7:26:94; km. 40/7:33:25; km. 41/8:13:37 e km. 42/7:54:25. Perdi mesmo muito tempo nestes últimos kms. e foi mesmo muito difícil chegar ao fim. Nestes últimos kms. fui passado por muitos atletas, muitos deles também já iam a dar as últimas, mas mesmo assim iriam melhor do que eu. Acho que a parte final da prova é demasiado “perversa”. Aquela recta na marginal é interminável (muito pior do que a recta da Nazaré, quando parece que estamos no sítio e nunca mais lá chegamos) e a ida à rotunda da anémona é algo contra a corrente.

Na subida final da Ava. da Boavista ainda caminhei alguns metros mas lá me consegui aprontar para a chegada “vitoriosa” à meta, que cortei em bom estado, com o relógio a marcar 4:18:17 (tempo de chip: 4:17:45).

Ainda esbocei uma tentativa para ir às massagens, pois estavam alí poucos atletas, mas decidi-me por ir para o carro que estava mesmo alí ao lado da meta. Abro a mala do carro, sento-me, pego numa powerade, bebo uns goles, pego numa barrita energética que como aos poucos, telefono para casa a avisar que tudo está bem e caminho, devagar, algumas centenas de metros, enquanto vou assistindo à chegada de outros atletas.

Alguns minutos depois sinto-me totalmente recuperado e regresso a casa, alegre e bem disposto. Poderia ter feito melhor? Sim, talvez, quem sabe...Valeu a pena? Claro que valeu a pena. Aprendi alguma coisa? Claro, aprendi imenso, foi uma experiência grandiosa. Mesmo a facto de ter passado algumas dificuldades para completar os últimos kms. contribuiu, e muito, para fortalecer o meu espírito de sacrifício e testar as minhas capacidades de sofrimento. Se assim não fosse não estaria eu já a pensar na próxima maratona, que espero seja em Abril de 2010, em Paris.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Maratona do Porto 2009 - resultado.


Com o “magnífico” tempo de 4:18:17 terminei, no passado domingo, a 6ª. Maratona do Porto.

Brevemente, neste blog, a história de um “estouro”.