quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

De partida.

Durante anos o percurso dos meus treinos passava, invariavelmente, por um bloco de apartamentos situado a algumas centenas de metros de minha casa.

Durante anos, fosse às sete da manhã, fosse às sete ou oito da tarde, era habitual ver à janela do primeiro andar desse bloco de apartamentos um senhor, que, sabe-se lá porquê, vinha para a janela fumar o seu cigarro. Talvez para não poluir a casa. Talvez para ver um pouco de luz, ou talvez as duas coisas.

Quando ali passava o senhor acenava-me com a mão e dirigia-me um sorriso simpático, sorriso esse que teria a sua mensagem.

Eu, sozinho com os meus pensamentos, recebia de bom grado aquele sorriso e retribuía o cumprimento.

Foi assim durante largos anos.

Na passada segunda-feira, afixado na porta da padaria, vi um anúncio que dizia que o Manuel C.L. tinha falecido.

Morreu-me, assim, um amigo com quem nunca falei, e cujo nome nem sequer sabia.

Sei agora que tinha 64 anos de idade e que se chamava Manuel C.L..

Quantas vezes pensamos que estamos escondidos numa qualquer janela do esquecimento, e tal não é verdade.

Hoje passei novamente a casa do senhor Manuel. A janela continuava aberta… Lembrei-me do senhor Manuel. Vou-me lembrar sempre quando ali passar.
É a minha homenagem.

6 comentários:

  1. Homenagem bem merecida.
    É um vazio que fica para a família e para si, que vai continuar a passar por ali e a saudá-lo, em pensamento, ele ouvi-lo-à.
    Um abraço.

    ResponderEliminar
  2. Olá meu amigo
    pois é, às vezes sentimos a ausência de pessoas com quem nunca falámos mas que estão presentes no nosso quotidiano...
    Abraço,
    António

    ResponderEliminar
  3. Amigo Zé

    Ao ler o seu apontamento, replecto de sensibilidade e humanismo, estava a recordar algumas passagens do extraordinário poema de Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)- A Tabacaria e a encontrar admiráveis semelhanças.
    Já o li não sei quantas vezes e de cada vez que o faço, mais me encanto.
    Se o quiser reler, aqui vai o link.
    http://www.insite.com.br/art/pessoa/ficcoes/acampos/456.html
    Grande Abraço
    FA

    ResponderEliminar
  4. Amigo Fernando, obrigado pela oportunidade que me deu de conhecer este magnífico poema,

    José Alberto

    ResponderEliminar
  5. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  6. pois é caro José, a vida passa num sopro e esta mensagem sensível que nos deixa apenas nos recorda que devemos aproveitar todas as pessoas com quem nos cruzamos, pois todas, sem excepção, são importantes.
    abraço e boas corridas.
    ab - tartaruga

    ResponderEliminar