sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A minha ultramaratona.

Mais tarde ou mais cedo todos iriam saber. É verdade que estou a participar numa ultramaratona.

Longos são os quilómetros. Neste momento já vou a mais de metade do percurso.

Mas, vamos lá começar o relato pelo princípio.


Sem dar conta, estava eu na estrada juntamente com muitos outros corredores. No princípio era a incerteza e o desconhecido, que me obrigaram a ter cautelas e a correr num ritmo muito lento, pois não conseguia imaginar o que me iria aparecer pela frente, tamanha era a novidade.

Lá por volta do quilómetro 12 comecei a sentir mais alguma confiança e aumentei um pouco o ritmo. Senti que, sabe-se lá porquê, o treinador não apostou muito em mim e por isso tive de ser treinador de mim próprio e ir aprendendo à custa dos erros que ia cometendo. Lá fui correndo quilómetros atrás de quilómetros num ritmo mais ou menos constante. No percurso fui acompanhando alguns corredores em quem confiei, pois no fundo estavam na mesma corrida, corredores esses que passados alguns quilómetros me passaram uma rasteira. Por algumas vezes ia caindo, desequilibrado. Creio mesmo que cheguei a cair uma ou outra vez. Mas lá fui continuando, papando quilómetros.


Por volta do quilómetro 23 juntei-me a uma colega de estrada que me foi ajudando a percorrer a longa maratona. Lá fui correndo, e assim passei os quilómetros 25, 30, 35 e por aí adiante. Por volta do quilómetro 30 tive alguma quebra, senti a dor de burro, parei para caminhar e senti vontade de desistir. Aí foi importante a ajuda da minha companheira de corrida, pois deu-me a mão e obrigou-me a seguir em frente.


E assim, de passo em passo e de quilómetro em quilómetro, cheguei até aqui ao quilómetro 53. Nesta altura do percurso e depois de todos os quilómetros percorridos a frescura já não é a mesma, por isso impus a mim próprio um ritmo mais moderado e o mais constante possível, pois sei que ainda me faltam muitos quilómetros para completar esta ultramaratona e eu quero chegar ao fim.

Enquanto vou percorrendo a estrada vou olhando para trás e analisando muito do que me foi aparecendo ao longo do caminho. Consigo lembrar-me de muitos companheiros que estavam comigo na linha de partida e que já ficaram pelo caminho. Alguns eram autênticos corredores de 100 metros. Cedo percebi que não iriam chegar ao fim… Outros também davam sinais de que não iriam ter força suficiente para continuar a correr assim que o terreno começasse a subir. Assim aconteceu. Logo que o terreno se inclinou um pouco, de imediato ficaram para trás e embora ainda não tenham desistido de vez, continuam mas com um sofrimento inglório e desumano, que mais valeria desistirem.

Também consigo lembrar-me das pessoas que na beira da estrada me foram incitando, aplaudindo e dando os abastecimentos. Recordo-me, também, de outras pessoas que ao invés de me aplaudirem ainda criticaram o meu esforço e o meu ritmo de corrida. Gostariam que eu tivesse encostado na beira da estrada, como eles mesmo fizeram.




Enquanto vou pensando, vou correndo, sereno e confiante de que conseguirei completar esta ultramaratona. Sei que os quilómetros finais serão difíceis, mas como já estou prevenido conto conseguir passar por eles sem grande quebra.

4 comentários:

  1. Amigo José Alberto
    Brilhante relato desta ultramaratona em que andamos metidos.Mas quando diz que "vai correndo, sereno e confiante que conseguirá completar esta ultramaratona" aí não tenha dúvidas, pois é o que de mais certo tem. O importante é que o caminho se faça em perfeita harmonia física e psíquica, sem termos pressa de chegar à meta, que há-de estar logo a seguir a uma qualquer curva da estrada. Saibamos caminhar, ou correr, que o chegar não passa de uma consequência.
    Até lá temos outras conquistas pela frente, para "exaltarem" a nossa existência.
    Já vou no 54º "km" pelo que também já tive a sorte de me tornar "ultramaratonista". Sem pressas.
    Grande abraço.
    FA

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  2. Amigo José Alberto
    parabéns pela sua "ultra", desejo que pelo menos chegue ao marco 100.
    Continuação de boas corridas.
    Abraço,
    António Almeida

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  3. Amigo José Alberto.
    Que surpresa, não sei se já concluíu essa ultramaratona queaqui relatou. foi pena não ter falado antes, pois sempre temos uma palavra de incentivo para dar. Agora aguardo o relato do resto da odisseia.
    Onde quer que esteja receba um abraço.

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  4. José que também corre

    (isto à segunda... já não sai como à primeira, mas não queria deixar de lhe deixar as minhas palavras)

    Esta ultra maratona está longe ainda de chegar à meta!

    Usufrua cada quilómetro, cada metro, cada passo, respire o ar que o rodeia, envolva-se nele, viva-o. Como sabe cada passo jamais se repetirá.

    Esta corrida está longe de ter um fim, e haverá momentos de desânimo e de dor, mas também muitos de felicidade e de sorrisos!

    Continuação dessa corrida com muitos sorrisos pelo caminho que se quer longo!

    Um beijinho
    Ana Pereira

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