segunda-feira, 2 de março de 2009

Traído pelo instinto.


A caminho de Madrid lá vai José no seu treino, longo, de fim de semana. Já passou o ponto de retorno, por volta dos 13 kms. e segue, agora, de regresso ao ponto de partida. Quando chegar ao fim terá feito cerca de 26 kms..

E é assim, em ritmo controlado, que segue, ora olhando a paisagem, ora olhando o pulsómetro que lhe vai indicando a frequência cardíaca, pois José tem por hábito ligar mais à frequência cardíaca do que ao ritmo de corrida por minuto. Foi isso que aprendeu, que para treinar para uma maratona conta mais atender à FC do que ao ritmo. Pontos de vista, dirão alguns, e com a “sua” razão.

Do lado esquerdo da estrada vê-se a ria de Aveiro. Do lado oposto vêem-se terrenos de cultivo. Algumas casas, que vão alternando entre casas de lavradores e pescadores, modestas, e outras de luxo, moradias de construção relativamente recente.

Por vezes passam carros. Velozes, apesar dos radares que com frequência a polícia ali instala. É que as rectas são tão longas que o convite à velocidade é grande. Só José é que não se pode dar ao luxo de acelerar, pois ainda faltam muitos kms. Assim, José, que vai sozinho, não se sente só, pois tem muita coisa em que pensar. É o lado bom destes treinos longos. Há tempo para pôr as ideias em dia.

E assim continua José. Lá ao longe vê uma curva, que parece desdenhar desta recta, como que dizendo “és longa mas hás-de chegar ao fim.

Entretanto, escondido atrás de um pequeno muro, qual caçador furtivo, está um pequeno cão. José não o vê. José segue tranquilo, quase que anestesiado. Eis que, de repente, como que surgindo do nada, o pequeno cão, no melhor do seu instinto, vendo José ao seu alcance, se lança desenfreadamente à estrada procurando alcançar as pernas de José.
Azar o seu. Ao longe, a grande velocidade, surge um automóvel, que só tem tempo para fazer uma travagem e um pequeno desvio. Por um tris o automóvel não apanha o cão que, assustado, com o rabo entre as pernas, regressa ao seu posto. Por uma fracção de segundo o cão não foi atropelado.

Também assustado pelo imprevisto, continua José o resto do seu treino. Pensa naquilo que acabou de presenciar e de que também foi personagem. Pensa também em tantas situações, semelhantes, passadas no quotidiano de cada um de nós, que têm, como figurantes, não cães, mas pessoas. Quantos de nós já não fomos apanhados pelo instinto predador de algumas “pessoas” que aproveitando o nosso embalo e a nossa confiança, se atiram a nós. Umas vezes sorrateiramente, quase sem percebermos que ali há lobo, e outras de forma descarada. Nestas situações da vida nem sempre a história acaba da mesma forma. Por vezes acabamos mesmo por sermos mordidos nas canelas. Outras, porém o mal vira-se contra o seu autor… felizmente.

3 comentários:

  1. Bom texto amigo José.
    E felizes os que podem fazer treinos longos com a Ria ali ao pé.
    Olhe... talvez nos encontremos em Madrid. Seria uma honra.
    Grande abraço.
    FA

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  2. Meu amigo, muito boa a narrativa de seu treino, cara, realmente é uma coisa de louco quando acontece isso de um cachorro sair correndo atrás de nós, por uns momentos ficamos com muita raiva, ihhh comigo já aconteceu várias vezes, inclusive até uma vez quando passava num posto de gasolina, um cachorro correu atrás de mim e os frentistas não falaram nada daí como eu peguei um pedaço de pau para afastar o cachoro de mim, aí os frentistas resolveram tomar partido do cachorro eu com muito dó dei uma pequena batida no cachorro e virei para os frentistas e disse, bom quando eu passei aqui e vcs viram o cachorro me atacando vcs não falaram nada, daí como eu peguei um pau para me defender do cachorro vcs sairam em defesa dele, vcs querem tomar o lugar do cachorro, daí eles não falaram mais nada e segui em frente, bom pelo menos o ataque do cachorro fez nos fazer um pequeno fartlek...rsss...
    Valeu amigo boa semana e bons treinos.

    Um abraço,

    JORGE CERQUEIRA
    www.jmaratona.blogspot.com

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  3. Amigo José.
    Os treinos longos para a Maratona permitem a visibilidade de muitas ocorrências e ajudam a que o nosso esforço se vá esbatendo à medida que os kms passam.
    Eu tenho por hábito levar a Máqui/fóto durante os treinos longos, a semana passada quando me preparava para registar nas margens do Rio Trancão o nascimento de um borrego é que verifiquei que a máquina não tinha bateria, fiquei danado.
    Muitas histórias irá ainda presenciar, continuação de bons treinos.
    Um abraço.

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