sábado, 17 de abril de 2010

Filho da puna.


O Sr. Manuel era (suponho que ainda é) um homem bom. Bom e muito educado.

Era ao Sr. Manuel que, em tempos, quando eu ainda utilizava lareira, quando o frio apertava, eu recorria, pedindo-lhe que me trouxesse 1.000 kgs. de lenha. Precisava dela para amanhã, pois estava muito frio e a lenha que tinha ficado do ano passado já tinha ido à vida.

Dizia a minha mulher: “lembra ao Sr. Manuel que traga lenha limpa e sequinha”.

Geralmente no dia seguinte cá estava o Sr. Manuel. Vinha de Escariz, lá dos lados de Arouca. Autêntico homem do campo, “expert” em matos e lenhas. Trabalhava para as fábricas do papel e a lenha, dizia, era um “biscate”. Por isso é que ele vinha sempre em horas esquisitas. Ou era ao sábado de manhã, mas bem cedo, ou lá para o fim da tarde, mas bem tarde. É que o Sr. Manuel não queria encontrar-se com o pessoal da GNR. Era o eterno problema das guias de transporte da mercadoria, ou, melhor dizendo, da falta delas...

Rápido chegava, rápido partia. Consigo vinha um neto, adolescente, potencial negociante de lenha. Mal chegavam eu abria o portão da garagem, e cá ficávamos os três a descarregar a lenha. O neto inclinava a caixa de carga da camioneta e empurrava a lenha, o Sr. Manuel ficava cá em baixo a puxar a lenha e eu ficava a ver... e a passar o cheque.

Ora, o neto com tanta pressa de descarregar a lenha ás vezes mandava umas axas com mais força. Uma ou outra iam atingir o Sr.Manuel.

- Filho da puna! – dizia o Sr. Manuel, homem bem educado.

Filho da puna, que quer isso dizer? Questionava eu.

E assim, ano após ano a história se foi repetindo até ao dia em que eu mudei o sistema de aquecimento.

Durante a semana que passou andava a sentir-me bem do meu joelho. Por isso, planeei um treino um pouco maior para Domingo. Aproveitei para fazer companhia a dois amigos que vão correr a maratona de Madrid na próxima semana (olá Artur; olá João) e que queriam fazer um treino longo. Combinei com eles e esperei-os aos 18 kms., tendo feito depois, em sua companhia, 14 kms..

Há tanto tempo que eu não comia um bife assim! Aumentei um pouco a distância em relação aos meus treinos anteriores e o ritmo também foi um pouco mais forte, mas nada que metesse medo ao susto.

Gostei! Vim para casa satisfeito.

Na segunda-feira, comecei a sentir o joelho inchado. Na terça idem. Na quarta-feira, a medo, fui correr. Ao fim de vinte minutos senti que era melhor terminar o treino. Mais do mesmo!

- Filho da puna, disse eu.

Filho da puna, que quer isso dizer? Quer dizer dor no joelho, dor na perna, dor na alma...

Mais uma semana para o galheiro.



5 comentários:

  1. Olá José,
    Deve de ser uma frustração imensa, bem que o compreendo!!
    Desejo que recupere rapidamente e em condições de correr sem "parar".
    Força ai José, estou contigo!!
    Grande abraço
    Vitor Veloso

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  2. Mais uma boa história, José. Pena é que tenha acabado mal, com esse "filho da puna" do joelho a pregar-lhe a partida de não "querer" acompanhá-lo nas corridas.
    Rápidas melhoras, José e... paciência para enfrentar a adversidade.
    Grande Abraço.

    FA

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  3. Olá amigo José.
    Espero que esteja melhor, e que dia 16 de Maio possa estar presente na Caparica.
    Entretanto passe lá pelo blogue pois existem novidades.
    Abraço

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  4. Ola BASTOS. FIquei triste com essa noticia ,principalmente depois daquela manha,bom treino,boas palavras as tuas,memorizei todas as tuas dicas.Espero que nao demore muito essa recuperaçao,pois sei bem o quanto necessitas da corrida.
    Abraço
    ArtuRodrigues

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  5. Amigo José Bastos
    há que não desanimar apesar desse "filho da puna", é que nós também já não somos jovens e a p.d.i daz-se sentir por muito que nos custe, principalmente quando a mesma nos impede de correr.
    Anima-te que melhores dias virão, só podem...
    Abraço,
    António Almeida

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